Nesta quinta-feira (3), o petróleo tipo brent, referência da política de preços da Petrobras, atingiu US$ 119,77 durante a madrugada. Há 50 dias sem alterar valores dos combustíveis nas refinarias, a estatal enfrenta pressões para repassar ao menos parte da alta.
Até a véspera, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estimava a defasagem de preços nacionais ao redor de 25%, tanto na gasolina quanto no diesel. Em valores, seriam R$ 1 no diesel e R$ 0,83 na gasolina.
Para comparar, há apenas três meses, em 2 de dezembro de 2021, a cotação do brent era de US$ 68,97. Caso o ataque da Rússia à Ucrânia e as sanções decorrentes sigam pressionando o valor do barril, é possível de em algum dias o preço de referência global do petróleo duplique em um período de apenas três meses.
Sempre que fala sobre sua políticas de preços (leia mais abaixo), a Petrobras menciona sua estratégia de não "repassar volatilidades". Em bom português, isso significa não reajustar preços nas refinarias quando ocorrem altas súbitas e não duradouras nas cotações. No entanto, o barril sobe sem parar ainda antes do ataque da Rússia à Ucrânia e das sanções econômicas que pressionam o mercado de petróleo e gás.
Conforme o presidente da Abicom, Sergio Araújo, o nível atual de defasagem de preços nas refinarias só é comparável ao período entre 2011 e 2013, quando a Petrobras acumulou grandes prejuízos. O cenário atual é muito distinto, porque a estatal teve em 2021 o maior lucro de sua história.
A Petrobras não atende a toda a demanda de combustíveis no Brasil, como ficou claro entre outubro e novembro passados. Por isso, o papel dos importadores é essencial para abastecer o mercado. E se a estatal vende em suas refinarias por preços 25% inferiores aos internacionais, fonte complementar de fornecimento, cria um desequilíbrio interno.
Na metade da manhã, a cotação do brent cedeu um pouco, mas ainda está em US$ 115,70. É difícil imaginar que a Petrobras aceite fazer um reajuste de 25% neste momento. Mas é cada vez mais insustentável não repassar algo dessa alta, com tamanha velocidade, poucas vezes vista na cotação do petróleo.
Conforme Louise Dickson, analista sênior de petróleo da consultoria especializada Rystad Energy, o mercado está em modo pânico. Na quarta-feira (2), havia afirmado que a situação era "extrema por qualquer medida nos termos históricos de preço de petróleo", com a maior e mais alta elevação. Nesta quinta-feira (3), avaliou que ainda que a Rússia e a Ucrânia tenham reunião para discutir um cessar-fogo, a frágil situação ucraniana e a sanções econômicas contra a Rússia devem manter a cotação do barril acima de US$ 100 no curto prazo "e ainda mais alta se o conflito escalar".
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.