
A estreia do "touro de ouro", escultura de plástico pintada de dourado na frente da bolsa de valores no Brasil, gerou reação imediata e predominantemente negativa. Do gosto questionável ao momento da "inauguração", tudo se somou para que a rejeição se traduzisse em protestos reais e deboches virtuais.
O maior problema é que o "touro de ouro" chegou à porta da bolsa em fase de urso, que é seu antagonista nos movimentos de mercado, inclusive na vida real. Além do Ibovespa, estão em baixa o PIB, a renda e o contingente de brasileiros atendidos pelo Estado.
Para situar o leitor menos familiarizado, touro e urso são os dois animais que simbolizam os dois movimentos do mercado. Quando em fase de alta, a bolsa está "bullish", como dizem os americanos, porque, ao atacar, touros jogam suas vítimas para o alto com os chifres – no mesmo sentido dos gráficos ascendentes. O urso, por sua vez, usa seu peso de cima para baixo, "desenhando" um gráfico em queda, ou "bearish".
No resto do mundo, ainda há "touros de ouro" – expressão relacionada a recordes de índices de ações, como o Dow Jones em Nova York ou o FTSE em Londres – quase toda a semana. São resultado da estratégia dos países ricos de injetar estímulos financeiros para compensar os estragos na atividade econômica feitos pela pandemia.
No Brasil, há uma semana, o "primo" desses indicadores, o Ibovespa, não saía do negativo. Nos últimos sete dias, acumulava queda de 4,82%, colocando em debate, inclusive, o risco de perda do nível dos 100 mil pontos, espécie de símbolo da aliança do mercado financeiro com o governo Bolsonaro concretizado em março de 2019. Na tarde desta sexta-feira (18), ensaia reação de 1,3% em reação à informação de um "fatiamento" da PEC dos Precatórios dada pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).
Diante da dificuldade de aprovação da PEC depois que seu apelido "do Calote" ganhou peso, a saída de Bezerra seria a seguinte: uma proposta paralela com apenas quatro pontos: um novo programa de transferência de renda permanente – não só até o fim do ano eleitoral de 2022 –, vinculação dos recursos do espaço fiscal ao Auxílio Brasil, criação de auditoria ou comissão mista para analisar o aumento dos precatórios, com criação de mecanismo que dê previsibilidade aos pagamentos.
Esclarecimento: o "touro de ouro" na bolsa de valores nacional não é uma réplica do touro que fica ao lado da bolsa de valores de Nova York. Não só porque o de Wall Street não é dourado (é em bronze), mas porque a posição do animal é diferente. Críticos amadores já apontaram, inclusive, que os chifres do touro tupiniquim estão "de lado", enquanto os do congênere mais famoso apontam para o alto, como se vê claramente nas fotos abaixo.

