O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Coordenador do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Fiergs, Ricardo Portella Nunes traça os diagnósticos atuais e os principais desafios lógísticos no Rio Grande do Sul. Obras em andamento e perspectivas para novos modais dão o tom de algumas mudanças que se anunciam para o setor no Estado.
Como é possível promover avanços para o setor logístico no Estado?
Os avanços mais significativos seriam no sentido de diversificar a nossa matriz modal de transportes. Observa-se, que 88% das cargas do Estado foram transportadas por rodovias em 2017. Em seguida, as ferrovias aparecem com modestos 6%, enquanto hidrovias e binômio de dutovias e aerovias equivalem, cada um, a 3%. Portanto, nossa dependência do modal rodoviário é substancialmente maior do que a observada no restante do país, onde 65% das cargas foram transportadas dessa forma. Isso se dá pelas distâncias menores em comparação a outros Estados, porém, para que haja mais eficiência, as estradas precisam ser adequadas. Da mesma forma, a multimodalidade, por meio do aumento da interligação na movimentação de cargas, traria significativa redução de custos e beneficiaria as cadeias produtivas.
O que já ocorre na prática?
Podemos destacar alguns exemplos de obras importantes para destravar avanços logísticos no Rio Grande do Sul: as duplicações das BRs 290, 116 e 392, que ligam a região sul do Estado à Capital e às regiões produtoras; a duplicação da RSC-287 entre Tabaí e Santa Maria; a conclusão da BR-285 (Rota Bioceânica); as melhorias na BR-116 entre Novo Hamburgo e Porto Alegre; a pavimentação da BR-392 de Santo Ângelo a Santa Maria; a construção do Aeroporto de Vila Oliva em Caxias do Sul; a duplicação da RS-122 de Caxias do Sul a São Vendelino; melhorias na ERS-446; a dragagem de partes do Jacuí e do Guaíba; e aprovação do PL 4.199/20, chamado BR do Mar, que permitirá mais ofertas de serviços de cabotagem na costa brasileira.
E os modais alternativos?
Temos, por exemplo, uma malha ferroviária razoável, que precisa ser explorada de maneira mais eficiente. Acompanhamos com atenção a questão da renovação da Malha Sul, que necessita de melhorias para comportar a produção gaúcha. O peso do modal ferroviário deveria ser muito maior, favorecendo tanto cargas conteinerizadas quanto a granel, sendo que, nas pontas da cadeia de transporte, o modal rodoviário entraria como complemento. Importante ressaltar que a malha ferroviária do Rio Grande do Sul encolheu mais de 1.100 quilômetros depois da concessão, o que afetou sobremaneira os custos de transporte de cargas no Estado.
E como estão as hidrovias?
Nossa malha hidroviária também é subutilizada, podendo trazer vantagens em determinadas regiões onde há rotas navegáveis, em especial para transporte de cargas a granel, barateando os custos de produção para a indústria e escoando outros produtos elaborados por ela. O Estado conta com cerca de 800 quilômetros de hidrovias navegáveis, que podem ser aumentados com o planejamento do trecho na Lagoa Mirim, que integraria a Hidrovia Binacional Uruguai-Brasil. O que dificulta estes projetos é a falta de coordenação política. Movimentar cargas por ferrovia seria um salto para o Estado, na competitividade gaúcha, podendo aumentar muito a escala do transporte de produtos.