Em comunicado, o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Rio Grande do Sul (Sivergs), entidade que representa as empresas do setor no Estado, faz uma advertência drástica: afirma que um acordo comercial entre Brasil, Coreia do Sul, Vietnã e Indonésia que está sendo negociado para reduzir taxas de importação de confecções vindas dessas regiões pode gerar uma "catástrofe" no segmento.
Conforme o presidente da instituição, Silvio Colombo, pode provocar o fechamento de pelo menos 50 mil postos de trabalho no país, redução de R$ 6,1 bilhões no PIB e até o fechamento de fábricas, além de "não beneficiar em nada" as indústrias do vestuário.
— Hoje, a taxa de importação de confecções está na casa dos 35%. Com o pacto, seria reduzida a zero. Não temos chance de exportarmos a esses país, enfrentamos práticas desleais de comércio e desequilíbrio em questões trabalhistas e sociais, sem contar que nossa desvalorização cambial foi muito maior. Não tenho medo de dizer que seria até o fim do setor de confecção do país — afirma Colombo.
Ainda de acordo com o presidente do Sivergs, a mudança vai gerar "concorrência desleal" com produtos fabricados no Brasil, já que os país do Sudeste Asiático adotam prática de política industrial ativa, com apoio financeiro significativo do governo à produção e "baixos níveis de exigência nas áreas ambiental e trabalhista". Colombo detalha o que considera "práticas desleais" dos países do acordo:
— O salário mínimo nesses países varia de um terço a 15% do valor no Brasil, com jornadas de trabalho bem mais pesadas, sem direitos sociais e, o mais grave, com trabalho infantil, o que é proibido.
Para tentar resistir, a entidade está articulando com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) maneiras de suspender o pacto ou, ao menos, reduzir os danos.
— Nem calculamos os danos aqui no Sul, mas pesquisa da Abit prevê cerca de 50 mil postos de trabalho fechados em todo o Brasil. Serão mais de 50 mil famílias sem renda — afirma Colombo.
Segundo levantamento do Sivergs, o setor gaúcho é composto por 15 mil empresas que empregam ao menos 23 mil pessoas e geram 38 mil empregos indiretos. A entidade ainda argumenta que os cofres públicos do Estado também serão afetados caso o acordo seja mantido. O argumento usado pelo Sivergs é baseado no volume de arrecadação de ICMS do setor em 2020. Conforme dados da Secretaria da Fazenda do Estado, o volume foi de R$ 85,1 milhões, representando 0,4% do total arrecadado pela indústria gaúcha, que faturou R$ 21,7 bilhões.
* Colaborou Camila Silva