A reação negativa às mudanças no Imposto de Renda entregues pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao Congresso foi tão forte que o governo já admitia até retirar a proposta inteira e enviar uma nova versão.
Nesta sexta-feira (9), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que não há possibilidade de retirada, e o relator, deputado federal Celso Sabino (PSDB-PA), avisou que o texto será "praticamente todo" alterado.
Em resumo, a proposta não cai, mas vai voltar para a prancheta. Como a coluna já diagnosticou, o que deveria ser o primeiro passo de um "pacote de bondades" teve tanta maldade entranhada que deixou o conjunto da obra intragável.
Em almoço com empresários em São Paulo, na quinta-feira (8), Guedes foi duramente cobrado, até pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), uma das entidades mais próximas de Jair Bolsonaro. Um dos presentes confirmou à coluna que Guedes foi "duramente cobrado", especialmente por ter discurso liberal, de "Escola de Chicago" e entregar uma reforma feita pela Receita.
No total, 120 associações empresariais assinaram carta a Lira pedindo comissão especial para discutir a reforma tributária, para que a propostas de Guedes não fosse aprovada de forma "açodada". O mesmo interlocutor que participou do almoço disse ter se reunido com Sabino nesta semana e ouviu do deputado que, de fato, não será nada "daquilo que foi proposto". O sentimento resultante, disse, é de expectativa cautelosa, depois da surpresa com a reforma antiliberal do liberal.
Embora tenha havido muita confusão entre a carga direta sobre as empresas e a nova tributação sobre dividendos, que é sobre a pessoa física que ganha com os lucros corporativos, empresários de todos os matizes apontaram não apenas aumento do peso, mas avanço da complexidade no cálculo e na arrecadação de impostos.
Agora, como avisou Sabino, não é mais apenas uma questão de ajuste de alíquotas. A promessa do relator é entregar a versão revista e reduzida - em carga tributária até terça-feira (13). Parece pouco tempo para mudar praticamente tudo. A reforma era essencial para a apoiar a retomada. Da forma que foi encaminhada, era uma ameaça às expectativas de recuperação.