A Lojas Renner anunciou, nesta quinta-feira (15), a aquisição do Repassa, plataforma online de revenda de vestuário, calçados e acessórios. É a primeira "ida às compras" da empresa que captou R$ 3,8 bilhões no mercado financeiro para crescer. Embora muito alinhado à estratégia, para quem acompanha os movimentos da varejista, especialmente em direção a premissas ESG (melhores práticas de governança corporativa, social e ambiental) o movimento surpreendeu quem esperava um alvo mais óbvio. Nesta entrevista à coluna, o diretor-presidente da Renner, Fabio Faccio, fez questão de trazer para a conversa o diretor de estratégia e novos negócios, Guilherme Reichmann, que comandou a aquisição. Os dois detalharam os motivos e os próximos passos da consolidação que a gigante pretende protagonizar.
Por que houve certa surpresa com a aquisição?
Um pouco porque, quando a Renner fez captação de recursos, houve especulação de compra de empresas enormes. Mas o que temos dito sobre a nossa estratégia faz com que esse seja o racional mais coerente com o que estamos planejando. Estamos dizendo que queremos ser referência em moda e lifestyle, oferecendo um sortimento maior de produtos e serviços relevantes para nossos clientes. Esse mercado de revenda vem crescendo 25 vezes mais do do que o segmento de moda, e se digitalizou recentemente. Vem tendo um crescimento exponencial e tem um viés de sustentabilidade muito forte, mais ainda para as gerações mais novas. Temos três pilares, digitalização, inovação e sustentabilidade. A Repassa tem o ESG no seu propósito, em trazer uso mais logo para cada roupa, e é uma startup nativa digital. Conversa totalmente com tudo o que temos trabalhado. A empresa ainda é nova, fundada em 2015, não é tão grande quanto outras especuladas, aí ficou fora do radar da maioria. Fizemos uma parceira com eles no final de 2020, em duas lojas, ondem poderiam retirar as sacolas com itens para revenda. O sucesso foi tão grande que ampliamos para 15 lojas, e nossos clientes deram nota 9,8 para esse tipo de serviço..
Qual o valor do negócio?
Não informamos nenhum valor nem indicador da Repassa porque assinamos o contrato de compra ontem (quarta-feira, 14), e a aquisição ainda está sujeita a due dilligence (avaliação detalhada) nos próximos 30, 40 dias. Divulgamos agora porque é nossa obrigação por transparência e pelas regras de mercado. Mas como a Repassa ainda não faz parte do grupo e não é uma empresa de capital aberto, não temos direito de abrir os números deles.
Essa é a primeira aquisição de muitas?
Reichmann: Com certeza. A posição da Renner tem sido muito clara. Temos a missão de ser a grande consolidadora no mundo de moda e lifestyle na América Latina. Temos vários blocos de valor, diferentes marcas e habilitadores de crescimento, que são tecnologia, dados, logística, conteúdo. São aceleradores de nossas iniciativas orgânicas (aumento da rede existente) ou aposta em inorgânico (aquisições). Então, sim, é uma possibilidade de que seja a primeira de muitas.
Como a Renner já está no Uruguai e na Argentina, pode haver compras fora do Brasil?
Diria que tem bastante coisa para fazer no Brasil. São recentes as iniciativas na Argentina e no Uruguai, onde também temos vendas online. É preciso maturar um pouco nesses países, e temos muitas iniciativas para fazer no Brasil. Não é que seja impossível, mas o foco é maior no país.
A resposta sustentável da Renner está à altura das pressões sobre o modelo fast fashion?
Há uma consciência maior do público consumidor sobre temas ESG, o que é muito positivo. Não vemos como pressão, mas como estímulo, porque a Renner vem trabalhando em algumas dessas questões desde o início de sua história. Trabalhamos o conceito da circularidade desde 2010 ou 2011, quando começamos a receber frascos e embalagens para reciclagem ou reúso. Depois lançamos o selo Re, trabalhando com matérias-primas menos impactantes. Em 2017, intensificamos o recebimento de peças para doação ou reciclagem, e acumulamos 155 toneladas desses itens desde então. Agora temos mais uma opção, a revenda, e as pessoas podem definir se querem ficar com 100% do valor, se querem destinar tudo para doação ou definir qualquer proporção entre o que fica e o que doa.
Como está o movimento nas lojas?
Desde o meio de abril para cá, o movimento de vendas vem melhorando acima do que esperávamos. Em muitos momentos, está superior a períodos pré-pandemia. Quanto mais se vacina, mais se intensifica essa melhora. É verdade que outros fatores ajudaram, como as baixas temperaturas, que vieram mais cedo neste ano e ajudaram, também. O frio e a vacina têm ajudado bastante na performance positiva.