Correção: o menor cotação do dólar até a data de publicação desta nota havia sido de R$ 21,0, no dia 14 de janeiro. A versão atual já foi ajustada.
Nesta quinta-feira (6), o dólar fechou com baixa de 1,62%, para R$ 5,278. É a menor cotação desde 5 de janeiro, quando encerrou o dia em R$ 5,26, o que significa que a moeda americana testa o menor patamar do ano.
O movimento chama atenção porque na mesma época de 2020, a referência de valor alcançava recorde nominal, sendo negociado por R$ 5,901. Mas, afinal, se pouco melhorou na economia, porque o câmbio acumula baixa de cerca de 10% em 12 meses?
Um dos motivos foi reforçado na quarta-feira (4) pelo Banco Central: o juro básica subiu de 2,75% para 3,5% e o Comitê de Política Monetária (Copom) avisou que deve ir para 4,25% em junho. Ou seja, em pouco mais de dois meses, a taxa terá mais do que dobrado. Isso significa que os recursos que entram no mercado de capitais nacional podem voltar a contar com algum ganho "automático" representado pela Selic.
Mais importante do que esse efeito, porém, é o recuo do dólar frente à grande maioria das moedas. De forma mais lenta do que outras denominações, com soluções diante do que o mercado chama de "ruídos" presidenciais, o câmbio cumpre o previsto com a eleição de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos.
E ainda não está claro, mas o Brasil tem a oportunidade de recuperar um pouco do valor do real no cenário de valorização de commodities no mercado global. Embora a alta de preços de mercadoria básicas, como minério de ferro e soja, ocorra desde o ano passado, havia um descolamento entre os preços dessas matérias-primas e as moedas de países exportadores desses produtos.
Historicamente, quando ocorre o que já foi chamado de "boom das commodities", como na primeira década do milênio, os países que vendem esses produtos ao Exterior ganham mais dólares nas operações e, em consequência, valorizam suas moedas. Mas conforme análise da área de macroeconomia do Itaú Unibanco, desta vez alguns países, como Brasil, Chile e África do Sul não estavam se beneficiando, enquanto Rússia, Colômbia, Canadá e Austrália capturavam esse efeito.
No estudo do Itaú, "o descolamento parece estar relacionado a restrições temporárias de oferta e à evolução da pandemia/vacinação e seus impactos sobre a perspectiva de recuperação e fundamento fiscal de cada país". Para o real, observa o banco, "risco fiscal permanece elevado", mas o aumento da taxa Selic e a boa perspectiva de exportações "deve dar alguma sustentação para a moeda". Como o aumento da inflação tem origem na estratégia de "juro baixo e dólar alto" do ministro da Economia, Paulo Guedes, se o movimento for consistente pode dar um alívio na pressão de preços.
Para lembrar, o recorde real da cotação do dólar continua sendo o de 10 de outubro de 2002, quando atingiu R$ 3,99 durante a eleição presidencial que tinha como favorito Luiz Inácio Lula da Silva. Corrigir o valor da época pela inflação brasileira, equivaleria hoje a mais de R$ 10. Caso a inflação americana também seja considerada, ficaria por volta de R$ 7.