No Palácio Piratini, há consciência de que a dispensa de plebiscito para privatização da Corsan não será uma missão fácil. Artur Lemos, chefe da Casa Civil que encaminhou as ofertas de CEEE, Sulgás e CRM, admitiu à coluna:
– Sabemos que não é um projeto fácil, mas também não é o mesmo cenário do governo Sartori (quando fracassou a tentativa de aprovar a dispensa do plebiscito para essas três estatais). Precisamos de 33 votos, vamos mostrar os números aos deputados.
Caso desta vez a dispensa seja aprovada, a expectativa do Piratini é concluir a privatização ainda em outubro, na mesma operação de oferta de ações da Corsan. Estimativas de mercado preliminares situam o valor total da operação em torno de R$ 3 bilhões.
Conforme Lemos, não cabe ao Piratini estabelecer prazo para a decisão da Assembleia, mas "se tudo correr bem", estima que em outubro seja possível fazer a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que também resultará na venda do controle da Corsan para investidores privados.
O secretário diz que o resultado da oferta primária (das ações recém-lançadas), estimado na quinta-feira (18) pelo governador Eduardo Leite em R$ 1 bilhão, vai para o caixa da companhia. Depois do lançamento, os papéis do Estado serão vendidos (oferta secundária) no mercado para reduzir a participação no capital.
Considerando a estimativa de total de R$ 3 bilhões da operação, o Piratini ficaria com um valor perto de R$ 2 bilhões. Lemos afirma que, no caso do Rio Grande do Sul, a venda da estatal de água e saneamento não será usada como contrapartida para adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RFF), como no caso do Rio de Janeiro, mas pondera que pode ajudar, já que os Estados precisam "demonstrar capacidade financeira" para se credenciar ao RRF.
Lemos confirma que os vetos presidenciais ao marco do saneamento foram uma espécie de gota d'água para mudança de posição do Piratini, mas relata que havia outros sinais apontando para a necessidade de rumar à privatização. Um dos indicativos era a dificuldade que outras estatais do mesmo ramo vinham enfrentando para emplacar seus IPOs:
– Quando se faz contato com potenciais investidores, eles dizem que o que interessa é o controle.
De fato, desde o final de 2019, há expectativa de IPOs de ao menos cinco companhias estaduais, mas nenhum foi concluído até agora. Além da Corsan, as estatais de Bahia, Ceará, Goiás e Pernambuco buscavam essa forma de financiamento.