O gigante Ever Given, navio de 400 metros que ficou atravessado por seis dias no Canal de Suez, foi liberado, mas as consequências do engarrafamento devem se estender até maio, avaliam gaúchos que atuam em exportação e transporte marítimo.
Conforme Aderbal Fernandes Lima, coordenador do Conselho de Comércio Exterior (Concex) da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), 21% das exportações de carnes (principalmente de frango), e frutas passam pelo canal e são as mais afetadas pelo encalhe.
– Já havia outro problema grave, que é a falta de contêineres, que cria um desarranjo no comércio mundial, e esse incidente só piora, cria uma tremenda pressão por aumento nos fretes, que já estavam inflacionados, chegaram a custar 10 vezes mais na virada do ano. Agora, a pressão estava diminuindo, com rotas atuando com frete no triplo ou seis vezes mais caro. Mesmo correndo tudo bem, com liberação do canal em três, quatro dias, esse desarranjo extra ocorrido não será solucionado, e o custo será repassado – afirma Lima.
Segundo o empresário, vários setores já vinham enfrentando atrasos de entrega, que causaram paradas da indústria automobilística no Brasil e em outros países. Boa parte desses atrasos, diz, são de cargas de componentes eletrônicos. Esse desabastecimento provoca pressão de preços, e o episódio do Canal de Suez só agrava esse cenário:
– Complica o que já estava complicado.
Conforme Paulo Bertinetti, diretor-presidente do Tecon, passam por Suez, a cada ano, entre 20 mil e 25 mil TEUs (sigla em inglês para Twenty-feet Equivalent Unit, ou unidade equivalente a 20 pés, que equivale a cerca de 21,6 toneladas) de empresas gaúchas movimentados a partir do terminal de contêineres de Rio Grande. Depois do incidente, já ocorreram muitos cancelamentos provocados pelo congestionamento no canal:
– Acaba provocando uma redução de escalas, os armadores (donos dos navios) vão cancelando paradas em portos, o que prejudica muito os contratos de nossos exportadores.
Outra dificuldade, aponta, é a maior dificuldade para a importação chegar na quantidade e no tempo certos para a indústria continuar produzindo. Bertinetti avalia que será necessário revistar o conceito "just in time" (método de produção que pretende eliminar estoques, fazendo com que insumos e matéria-prima cheguem na hora da produção).
– A gente confia demais na logística. Todas essas dificuldades acabam com a previsibilidade. Temos grande dependência da Ásia, que passou a fabricar tudo e não é perto. Uma viagem de navio desde lá até o Brasil leva 77 dias. Alguém vai pagar essa conta, e geralmente quem paga somos nós, os consumidores finais.