O calendário virou, mas o presidente continua o mesmo. Nesta terça-feira (5), tentando justificar o descumprimento de uma promessa de campanha, Jair Bolsonaro afirmou, ao sair do Palácio da Alvorada:
– O Brasil está quebrado, chefe (dirigindo-se a um suposto apoiador). Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, tá, teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter.
Do ponto de vista da coluna, que faz parte do que ele chama de "mídia sem caráter", não é a imprensa que o presidente desrespeita ao fazer esse tipo de afirmação. É, acima de tudo, cada um de seus 57,7 milhões de eleitores, que o escolheram exatamente, para consertar o país. Para não ser exaustiva, a coluna vai citar apenas uma das frases em que o então candidato prometeu "consertar" o Brasil:
– Fizemos uma campanha não diferente dos outros, mas como deveria ser feita, afinal de contas, a nossa bandeira, o nosso slogan, eu fui buscar naquilo que muitos chamam de caixa de ferramentas para consertar o homem e a mulher, que é a Bíblia sagrada.
Consertar países é tarefa de estadistas. Outros tipos de ocupantes do principal cargo executivo em uma república, como Bolsonaro, escolhem se manifestar como se não tivessem qualquer responsabilidade sobre as suas circunstâncias. A conclusão óbvia é que não há material de estadista na natureza do atual presidente.
Economicamente falando, o Brasil não está quebrado. Enfrenta, sim, uma situação fiscal bastante adversa, com endividamento pesado, que encosta em R$ 5 trilhões, dos quais R$ 1,3 trilhão vencem neste ano. Um dos motivos do aumento foi a manobra de elevar o auxílio emergencial de R$ 500, aprovado pelo Congresso à sua revelia, em R$ 600, para colocar o seu carimbo e ganhar popularidade. Nessa busca, não deixou de gastar porque o país estava "quebrado".
Em vez de ter gasto cerca de R$ 300 bilhões para bancar o benefício, poderia limitado a despesa a R$ 240 bilhões e reduzido o endividamento em R$ 60 bilhões. O custo da atualização da tabela do Imposto de Renda é estimado em cerca de metade desse valor: R$ 36 bilhões. Esse é o papel do estadista: tomar decisões. De preferência, as certas.
Quebrada estava a Grécia em 2015, quando fez um plebiscito para consultar a população, obteve resultado A e praticou o plano B. Quebrado está um país que não consegue mais se financiar, não atrai qualquer tipo de investimento. Para o Brasil, está difícil. E pior, não há sinal de melhora até o final de 2022.