Passou a eleição, como o Planalto queria, para que o governo desse respostas aos brasileiros sobre o plano de recuperação da economia. A mais urgente é sobre o que vai acontecer, a partir de janeiro, com os brasileiros que recebem auxílio emergencial.
O pagamento não beneficiou apenas os mais necessitados: ajudou comércio e indústria de materiais de construção, produção e venda de todo tipo de produto para a casa.
Vai quase concretizar o que era visto como uma das profecias otimistas do ministro da Economia, Paulo Guedes: a de que a recuperação da maior recessão da história do Brasil fosse rápida, em forma de V. Foi "quase" porque não chegou a todos, longe disso. Mas para alguns setores, a perna de ascensão do V foi até maior do que a de queda.
Às vésperas do momento de decisão, Guedes voltou a manifestar os sintomas da pressão sob a qual se move. Na quarta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que que os investidores aguardam uma manifestação de responsabilidade fiscal do governo. Para isso, disse, é preciso "um plano que dê clara percepção de que o país está preocupado com a trajetória da dívida". Depois disso, Guedes se ouriçou:
– Pergunta para ele (Campos Neto) qual o plano. Nós já sabemos qual é, já temos. É transformar o Brasil em economia de mercado.
Para suavizar o mal-estar, Guedes disse que não sabia da fala de Campos Neto antes de sua declaração. E garantiu que a relação dos dois está "calma" e "tranquila".
Desde agosto, o mercado "elegeu" Campos Neto como substituto à altura de Guedes. Desde então, o desgaste do atual ministro só aumenta, tanto por virtude – a resistência ao populismo presidencial – quanto por defeito – a incapacidade de entregar reformas e/ou privatizações.
A renovação de algum tipo de amparo para quem depende do auxílio emergencial é defendida até por guardiões das contas públicas, como Raul Velloso. Mas renovar o benefício ou ampliar o Bolsa Família ou o Renda Cidadã não pode voltar à fórmula "pobre x paupérrimo". Na equipe econômica, foi retomada a tentativa de estender o apoio às custas da não correção das aposentadorias. Isso é um plano, mas para a própria extinção.