Na próxima terça-feira (3/11), o Banco Central dará a largada na operação do Pix, seu sistema de pagamentos instantâneos. Nessa data, de 1% a 5% dos clientes das 762 instituições poderão enviar recursos, e todos que têm conta em banco ou fintech poderão receber. A partir do dia 9, a recomendação do BC é de que os bancos passem a ampliar esse universo de forma gradual até a estreia do "Pix para todos", no dia 16 de novembro.
A escolha desses clientes, conforme o BC, está a cargo de cada uma das instituições participantes, mas precisa seguir o perfil da base de clientes nos aspectos de faixa etária e localização geográfica, por exemplo.
Embora essa fase estivesse sendo chamada de "teste", Angelo Duarte, chefe do departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do BC, disse que se trata de uma etapa de "operação restrita", em que todas as funcionalidades estarão disponíveis, o que marca o início do funcionamento de todos os sistemas, o do BC e os de bancos e fintechs.
— Vamos iniciar operações reais, não é um teste. Há restrições de quantidade de usuários que poderão fazer pagamentos, mas não há nos que vão receber. Também há restrições no horário, ao contrário da operação plena, que será 24 horas por dia, 365 dias no ano — afirmou o executivo em webconferência.
A coluna quis saber se há risco de que se repitam os problemas da estreia do cadastro, quando aplicativos de bancos chegaram a parar de funcionar pelo grande volume de operações. Duarte confirmou que existe a possibilidade, e é para isso que a operação terá essa fase restrita:
— Houve problemas com alguns sistemas nas primeiras horas do cadastro, mas vemos isso como normal. No acionamento do sistema, podem ocorrer intercorrências nos sistemas de conectividade, que podem levar algumas horas, alguns minutos a mais para completar a operação, mas isso é esperado. Para isso existe a fase de operação restrita, para ajustar os sistemas.
Haroldo Cruz, chefe do Departamento de Tecnologia da Informação do BC, admitiu que houve, sim, problemas no sistema do Pix do Banco Central:
— Houve, sim, um pequeno problema no BC nas primeiras duas horas e meia de operações (na estreia do cadastramento). Não que tivesse parado, mas houve algumas tentativas de cadastro com erros de conexão por necessidade de ajustes do sistema, o que é muito norma. É uma questão de calibrar a configuração. É por isso que vamos fazer a operação restrita, em sistema de soft opening, porque é um sistema de grande complexidade. Assim, permite que qualquer problema seja resolvido de forma menos crítica.
COMO SERÁ A OPERAÇÃO RESTRITA
De 3 a 8/11 - 1% a 5% da base de clientes, que serão escolhidos pelos respectivos bancos e fintechs
De 9 a 15/11 - Aumento gradual da base até o dia 16/11, quando o Pix começa a funcionar para todos
Horários de 3 a 15/11
Quartas das 9h às 22h
Quintas das 9h às 24 h
Sextas de 0h até 22h
Como vai funcionar o Pix
O que é o Pix?
É um sistema para enviar e receber valores, criado para substituir as formas atuais de enviar dinheiro a alguém, como DOC e TED. Não é de uma empresa privada, mas do Banco Central, um órgão do governo. Cada um vai usar onde preferir: no banco ou em pequenas empresas de finanças, as chamadas fintechs. Vai funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana e completa a operação em até 10 segundos.
Como se usa?
A partir de 16 de novembro, vai estar funcionando nos aplicativos ou no sites bancos e fintechs. Será como fazer uma transferência, só que mais rápido, sem limite de horário e, na maioria dos casos, grátis. Serve para enviar dinheiro para a conta de um parente ou até para pagar um compra.
Precisa ter conta em banco?
Não, há várias empresas de finanças, as fintechs, que vão oferecer o serviço. Mas será necessário fazer um cadastro e ter o dinheiro depositado em uma dessas empresas para poder fazer pagamentos.
Precisa ter cadastro?
Não é obrigatório, mas ter um registro torna a operação mais rápida, porque não precisa preencher dados a cada vez que envia ou recebe dinheiro. Desde o dia 5 de outubro, bancos e fintechs estão cadastrando o que chamam de "chaves", que podem ser CPF, número do celular ou e-mail. Se a pessoa prefere não informar esses dados, pode usar uma "chave" que o app sugere, mas será daquele tipo cheio de números e letras, difícil de decorar.
Como se cadastrar?
É só entrar no site ou no aplicativo do seu banco ou de sua empresa de finanças e procurar por "Pix". Na maioria dos casos, é só seguir a ordem em que as opções aparecem, confirmando ou rejeitando a "chave" preferida. Se aparecer "CPF" e você preferir usar outra, é só recusar esta que a próxima aparece.
Tem risco de golpe?
Tem, principalmente se forem usados links recebidos para fazer o registro. Por isso, é importante entrar direto no site ou no aplicativo que você costuma usar para lidar com seu dinheiro. Depois, vai ser preciso prestar bastante atenção, porque uma das formas de enviar e receber pagamentos será o envio de links clicáveis, mas isso vai ocorrer dentro do app ou do site de internet banking.
É obrigatório?
De jeito nenhum. Se você não costuma fazer esse tipo de pagamento, pode ficar sossegado e não se estressar com o Pix. Se prefere pagar mais, mas manter as opções mais tradicionais, como DOC e TED, também não. Mas é bom ficar preparado para o fato de que há tendência de ampliação gradativa do uso desse tipo de tecnologia, com custo mais baixo.
Então por que os bancos insistem tanto que é preciso se cadastrar?
Porque um dos papéis do Pix é ajudar a democratizar o mercado bancário no Brasil, ou seja, permitir mais escolha aos usuários. Se o cliente registra uma chave em determinada instituição financeira, presume-se que vá operar com esse banco ou fintech. Por isso, o interesse dos bancos é "segurar" os clientes.
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