Depois das especulações públicas sobre a saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, provocadas pelo anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que o Renda Brasil estava suspenso, o "posto Ipiranga" se reabasteceu nos dois últimos dias.
Os cortes no orçamento de 2021, que embutiram compromissos com teto de gastos e regra de ouro, o programa Renda Brasil em espera, a retomada da reforma administrativa e o anúncio do auxílio emergencial na metade do valor agradaram ao mercado financeiro: no final da manhã desta terça-feira (1º), a bolsa subiu 2,8% e o dólar cedeu 1,75%.
É uma reviravolta no "guedômetro", ou seja, na percepção da força do ministro da Economia. Subiu logo depois do episódio de debandada de parte da equipe , desceu com a “falta fora da área” de Jair Bolsonaro.
Na apresentação do orçamento, na segunda-feira, o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues, mencionou ao menos uma dezena de vezes as expressões "teto de gastos" e "regra de ouro", sempre garantindo que não haverá quebra de nenhum desses compromissos e defendendo a necessidade de reestruturar o planejamento de gastos com base no plano DDD de Guedes: desvincular, desindexar e desobrigar. Também mencionou várias vezes a retomada da reforma administrativa.
Nesta terça-feira (1º), Guedes anunciou formalmente a retomada ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que resistia à proposta. O ministro reiterou que não atinge os atuais servidores, mas "vai redefinir o futuro" da carreira pública. O objetivo da equipe econômica é não só diminuir a despesa com pessoal – a segunda maior da União, logo depois da Previdência, sem contar o serviço da dívida pública –, mas tornar a contratação mais flexível.
A prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, para a metade do valor pago nos primeiros cinco meses, é mais um empate entre a demanda de Bolsonaro e os limites de Guedes do que uma vitória do ministro. Mas a essa altura, empate também soma pontos. A despesa extra de R$ 100 bilhões levará o gasto total a R$ 350 bilhões com a ajuda aos "invisíveis" em 2020. Foi uma poderosa ajuda para que o PIB despencasse menos, e agora será preciso monitorar o desempenho da atividade com a redução do benefício.