O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A eventual adoção de um lockdown em Porto Alegre não terá apoio de lideranças empresariais neste momento. Após discussões ao longo do fim de semana, dirigentes de entidades reiteraram o compromisso com protocolos sanitários, mas descartaram defender a mais dura das medidas de isolamento social.
A possibilidade de a Capital mergulhar em modelo de lockdown cresceu nos últimos dias, com o aumento no número de casos de coronavírus. Diante da situação, especialistas da área da saúde apontam risco de colapso no sistema de atendimento médico.
Durante o fim de semana, lideranças de cerca de 15 entidades se reuniram para debater o assunto. Entre elas, o Sindilojas e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre. Na visão do empresariado, a adoção de um lockdown serviria para agravar ainda mais o quadro dos negócios.
Em nota, as entidades que participaram das discussões afirmam que, "embora fiéis ao compromisso colaborativo, a suspensão das nossas atividades, por um período superior a cem dias, já representa um grau de sacrifício de recursos que supera a capacidade de sobrevivência das empresas".
Lideranças também pedem colaboração da população para conter o avanço da pandemia. "Solicitamos aos cidadãos que colaborem no sentido de respeitarem os níveis de isolamento social", diz o texto. "A manutenção de restrições tão severas às atividades produtivas também acarreta riscos de consequências desastrosas para a economia, para a preservação e geração de empregos e, por conseguinte, da saúde e da vida", acrescenta.
Na tarde deste domingo (19), em meio ao avanço do coronavírus, a ocupação em unidades de terapia intensiva (UTIs) da Capital estava em nível superior a 90% — o indicador contempla diferentes tipos de doenças. Na economia, o estrago da covid-19 pode ser dimensionado, em parte, pelo fechamento de empregos. De março a maio, Porto Alegre perdeu 21,9 mil vagas de trabalho com carteira assinada, indicam dados do Caged.
Abaixo, confira nota divulgada por entidades:
"Aos cidadãos de Porto Alegre
Diante das medidas restritivas que há mais de 100 dias vigoram na nossa cidade, decretadas em face do combate à Covid-19, as entidades abaixo assinadas, representando setores de extrema importância para a nossa economia, manifestam à sociedade porto-alegrense:
1. Ratificar o nosso compromisso de respeito à ordem pública, seguindo as determinações expressas nos diferentes decretos estaduais e municipais, que buscam, assim esperamos, preservar a saúde e a vida da população de nossa cidade;
2. Continuar a adotar, como temos feito desde o princípio da pandemia, todos os protocolos sanitários para o funcionamento dos estabelecimentos dos nossos associados. Locais onde, ressaltamos, não há registro de foco de contaminação pelo coronavírus, até a presente data;
3. Reiterar que, embora fiéis ao compromisso colaborativo, a suspensão das nossas atividades, por um período superior a 100 dias, já representa um grau de sacrifício de recursos que superam a capacidade de sobrevivência das empresas que sofreram restrições à sua atividade. Neste sentido, os segmentos essenciais que mantiveram-se abertos e que assinam a presente carta, solidarizam-se com os demais setores que tiveram sua atuação restringida neste período. Associa-se a isto, o fato de que a manutenção de restrições tão severas às atividades produtivas também acarreta riscos de consequências desastrosas para a economia, para a preservação e geração de empregos e, por conseguinte, da saúde e da vida.
Por fim, na expectativa de conciliarmos os interesses que são comuns a todos, solicitamos aos cidadãos e demais habitantes de Porto Alegre que colaborem no sentido de respeitarem os níveis de isolamento social instituídos bem como solicitar, ainda, às autoridades constituídas, a melhor e justa adequação dos níveis de isolamento social, dada a importância de superarmos, com brevidade e de forma organizada, o momento grave que atravessamos, colaborando, cada a um a seu modo, para a urgente retomada das nossas atividades."
Entidades que assinam o manifesto: CDL POA, Sindha, Sinduscon, Abrasce, Sindilojas Porto Alegre, ACPA, Abrasel, ICF Floresta, Sincodiv/Fenabrave-RS, Sinepe, Agas, ADCE, AEHN, Sergs, Fetransul, Secovi, Acomac e Aclame.