Depois de bater recorde e cruzar a barreira psicológica de R$ 4,20, na véspera, o dólar recuou discretamente nesta terça-feira (19), para fechar a R$ 4,199. A pressão sobre a moeda americana começou logo depois do fracasso de dois leilões de áreas do pré-sal feitos no início do mês. Pela manhã, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que a quebra de expectativas foi um dos principais componentes que levou o dólar à máxima nominal histórica:
– Há várias explicações. Recentemente, houve uma frustração com a cessão onerosa. Então, como a entrada de recursos foi menor do que a esperada e muitos agentes se posicionaram para capturar esse dólar caindo, agora há uma volta.
Campos Neto se referiu à perspectiva de grande entrada de divisas com ofertas de grupos estrangeiros, especialmente no leilão dos excedentes da cessão onerosa, mas isso não se confirmou. Só a Petrobras fez lances, apoiada por duas estatais chinesas, com participação muito pequena. Como afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, o negócio acabou envolvendo apenas a União e a Petrobras, trazendo pouco dinheiro novo para o Brasil:
– Tivemos uma dificuldade enorme para, no final, vender de nós para nós mesmos – afirmou no dia seguinte, quando ocorreu novo revés e nem a Petrobras confirmou lances para áreas nas quais havia feito pedido de preferência.
Além disso, houve forte saída de dólares do Brasil. De janeiro até 8 de novembro, o valor que deixou o país, de US$ 21,5 bilhões, já superou a quantia registrada em todo ano de 1999, de US$ 16,2 bilhões. Há uma década, o real havia sofrido um ataque especulativo, seguido da adoção do regime de câmbio flutuante que existe até hoje. Desde a segunda-feira (18), há expectativa de que o BC intervenha no mercado cambial, como chegou a fazer meses atrás, mas Campos Neto afirmou que a intenção é apenas "monitorar" os movimentos da moeda.