Uma das distorções em que o Brasil é campeão, a taxa cobrada no cheque especial, será alvo de um plano de redução do Banco Central (BC). Mas a solução cogitada até agora é um tanto exótica: em vez de "só" juro estratosférico, o cliente pagaria uma mensalidade, estimada em
R$ 20, se quisesse usar o limite automático de crédito. Quem não precisa escaparia da cobrança, mas como hoje só entra "no vermelho" quem não tem outra saída acabaria pagando para ver. Até como preço de seguro, é um valor elevado.
Em outubro, quando o juro básico ainda era de 5,5% ao ano – foi cortado para 5% há duas semanas, quando o BC também anunciou disposição de levá-lo a 4,5% em dezembro –, a média da taxa cobrada no cheque especial foi de 274,4% ao ano, conforme pesquisa publicada nesta terça-feira (12) pela Anefac. Nas contas da entidade, isso significa que a taxa está 2.196,8% acima da Selic.
Nas projeções do BC, com a cobrança de mensalidade, a taxa mensal do cheque especial cairia de 12% para 7,5%. Se essa proporção de redução for aplicada à taxa anual, esta encolheria para 1.373%. Não fica muito melhor do que hoje, tanto em percentual quanto em termos de distância da Selic.
O mais grave é que, conforme informações do BC, 77% dos usuários do cheque especial têm renda de até cinco salários mínimos, ou seja, estão em uma faixa de renda na um juro deste tamanho ainda pesa muito. Tentando se antecipar, a Caixa anunciou nesta terça-feira (12) um corte da taxa mensal do cheque especial e 8,99% para 4,99%. Já era inferior à média,
de 11,65%. Corta quase à metade. Faria melhor o BC se apostasse na receita da Caixa, que mostra a viabilidade de operar com taxas mais baixas, pressupondo-se que não está repetindo erros do passado.