Dada a importância estratégica da primeira viagem presidencial à China, principal parceiro comercial do Brasil, chamou atenção a falta de dois ministros. Não estão na comitiva Paulo Guedes, da Economia, nem Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, duas áreas cruciais para as relações bilaterais. Em 2019, a China fecha uma década como maior compradora da produtos brasileiros. O ano marca ainda a perda desse mesmo status do país asiático em relação aos Estados Unidos.
A integrante da comitiva com GPS econômico mais avançado é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Embora a soja seja uma das matérias-primas mais compradas do Brasil pela China, completa um trio formado ainda por minério de ferro e petróleo, especialmente depois da crise da Petrobras. A presença do secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, muito respeitado fora do país, também ameniza as faltas no primeiro escalão.
No entanto, uma das palavras essenciais para negócios, na China, é guanxi. As traduções vão de "relacionamento" a "contatos". Entre seus códigos, quanto maior o nível do interlocutor, mas fácil estabelecer uma parceria. Como lembra o diplomata José Alfredo Graça Lima, quem mais importa em viagens presidenciais é o próprio PR (Bolsonaro, no caso). Mas para um país que tem um plano ousado – e travado – de privatizações, não envolver os dois principais "vendedores" é perder oportunidades.
A China é o país que mais aporta recursos para infraestrutura no mundo. No Brasil, investimentos chineses na área somaram US$ 66,5 bilhões entre 2015 e 2017, conforme a entidade que representa o setor – média superior a US$ 20 bilhões ao ano. Em 2018, caíram para US$ 4,9 bilhões. No segundo trimestre, segundo dados do governo, só houve anúncios envolvendo US$ 200 mil. Seria boa hora para fazer guanxi.