Se no Brasil as queimadas na Amazônia monopolizaram a atenção, no Exterior foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que comandou o show de horrores. Nesta sexta-feira (23), depois de um correto pronunciamento de Jerome Powell – garantiu que haverá estímulo caso seja necessário, frente ao temor de recessão global –, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Trump tuitou perguntando quem era o maior inimigo do país, Powell ou o presidente da China, Xi Jinping. Bolsas de todo o mundo despencaram, e o dólar se valorizou. A moeda que mais perdeu foi o real. O dólar subiu 1,15%, para R$ 4,124, a maior cotação do ano.
A bolsa de valores caiu 2,35%, para 97,5 mil pontos, menor pontuação desde junho, quando havia fechado em 95,9 mil. Analistas são unânimes em apontar o agravamento do conflito comercial entre EUA e China como causador do estrago nos mercados financeiros globais. O dia começou com o anúncio de que a China vai retaliar os EUA, impondo tarifas extras sobre US$ 75 bilhões em produtos americanos que importa. Trump se enfureceu, disse que "não precisa" do parceiro comercial e sugeriu que as empresas americanas "busquem alternativas" para suas exportações ao gigante asiático.
Mas se houve consenso sobre o estrago provocado pela guerra comercial, o peso da crise de imagem e das ameaças europeias ao Brasil dividiu analistas. André Perfeito, economista-chefe da Necton, observou que a desvalorização do real ocorreu "a despeito das intervenções do Banco Central", e que o comportamento "pode ser creditado ao agravamento da crise amazônica", porque outros líderes se somaram a Emmanuel Macron na elevação do tom contra Brasília.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimentos, considera "difícil" avaliar o peso do desgaste do Brasil com líderes europeus:
– Não vejo respingos da crise da Amazônia afetando o mercado. Pode até ter havido, mas é difícil segregar. Até porque o governo brasileiro sinalizou mudança de postura, o que pode atenuar o problema. Caso se comprometa com o controle do desmatamento, pode reduzir esse impacto.