A China voltou a elevar o tom neste domingo (2) em sua guerra comercial com os Estados Unidos, ao rejeitar a responsabilidade no fracasso das negociações com Washington e sem permitir entrever uma saída para a crise a curto prazo.
O vice-ministro chinês da Informação, Guo Weimin, divulgou o documento, de 21 páginas, que resume as posições chinesas e foi publicado um dia depois da entrada em vigor das novas tarifas punitivos a produtos americanos por um valor de US$ 60 bilhões importados a cada ano pela China, uma reposta às mais recentes sanções americanas, adotas no início de maio contra US$ 200 bilhões de produtos chineses.
Em questão de dias, Pequim passou claramente à contraofensiva, quase um ano depois do início do confronto econômico contra Washington, com ameaças de embargo a certos metais, lista de empresas estrangeiras "não confiáveis", aumento de tarifas e retórica de guerra.
— A guerra comercial não devolveu a grandeza aos Estados Unidos — afirmou Weimin, parafraseando o slogan de campanha do presidente americano Donald Trump, "Make America great again".
O governo de Washington aumentou em julho de 2018 as tarifas dos produtos chineses, medida que Pequim respondeu com sanções a produtos americanos.
Desde então, os preços e custos de produção aumentaram nos Estados Unidos, as exportações do país para a China registraram queda e o crescimento mundial está ameaçado, resumiu Guo ao apresentar à imprensa um Livro Branco.
Quase ao mesmo tempo, em Singapura, o ministro chinês da Defesa afirmou que segunda maior potência econômica mundial responderá às medidas de Washington. O general Wei Fenghe se pronunciou durante o Fórum de Segurança Internacional em Singapura, o Diálogo de Shangri-La.
— A respeito da fricção comercial iniciada pelos Estados Unidos: se os Estados Unidos querem conversar, estamos com a porta aberta. Se querem lutar, estamos prontos, declarou.
Um mês depois do fracasso das negociações comerciais em Washington, Guo afirmou em Pequim que o governo dos Estados Unidos tem "total responsabilidade" no revés por ter alterado suas exigências em diversas ocasiões.
O governo chinês havia indicado que as negociações seriam retomadas em Pequim em uma data ainda a ser definida, mas na entrevista coletiva deste domingo não fez nenhuma referência a possíveis datas. Guo disse que não tem informações sobre um encontro bilateral entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, no fim de junho em Tóquio, à margem da reunião de cúpula do G20.
"Embora a cooperação seja a única opção possível entre os dois países, a China não fará concessões em seus princípios fundamentais", afirma o Livro Branco, que considera "totalmente infundadas" as acusações de roubo de propriedade intelectual formuladas pela administração Trump.
Além do enorme déficit na balança comercial, o governo americano denuncia os obstáculos que as empresas estrangeiras enfrentam na China, assim como as transferências forçadas de tecnologia e o apoio concedido às empresas públicas.
O confronto comercial seguiu para um conflito tecnológico. No mês passado, Washington incluiu a gigante chinesa das telecomunicações Huawei, suspeita de espionagem, em uma lista de empresas que não podem receber tecnologia americana.
Um golpe muito duro para a Huawei, que precisa de chips eletrônicos americanos para seus smartphones. Pequim respondeu na sexta-feira (31) ao anunciar a criação de uma lista de empresas estrangeiras "não confiáveis".
O governo chinês também deu a entender que poderia bloquear as exportações terras raras, metais que a indústria americana precisa para diversos setores de ponta. Ao falar sobre a Huawei, o ministro chinês da Defesa ressaltou que não é uma empresa militar, apesar de seu fundador, Ren Zhengfei, ter sido engenheiro das Forças Armadas.
— A Huawei não é uma empresa militar. Não pensem que porque o CEO da Huawei serviu no exército a empresa que construiu é parte do exército, afirmou o general Wei Fenghe
* AFP