Para a indústria brasileira, a greve dos caminhoneiros teve efeito parecido com a eclosão da crise financeira internacional do final de 2008. O setor teve em maio o pior resultado desde a quebradeira nascida das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. Há uma década, em dezembro a queda chegou a 11,2%. No mês de estradas bloqueadas, foi de 10,6% em relação a abril. É solavanco, não representa mudança de patamar, mas terá impacto.
A desarrumação provocada pelo bloqueio nas estradas ainda tem reflexos em estoques. Há indústrias e lojas em que o abastecimento ainda não foi normalizado. E ainda será preciso enfrentar a herança de duas medidas adotadas para encerrar a paralisação: a tabela do frete e o subsídio para o diesel. Na sexta-feira, quando o IBGE anunciar a inflação de junho medida pelo IPCA, é bom se preparar para outro susto. Vai somar impactos de perda com greve, aumento de gasolina e alta do dólar.
Dado o tamanho do pessimismo das previsões, que chegavam a quase o dobro da retração registrada, o percentual geral de queda assusta mas nem é o mais preocupante. Análises setoriais do IBGE impressionam mais: em relação a maio de 2017, houve declínio na produção de 70% na indústria e de 91% no ramo de alimentação.
Além de deixar a marca da derrapagem da economia na pista, porque vai pesar no resultado anual, o indicador confirma o abalo na confiança. Mais de um mês depois do final da greve, a tabela de fretes ainda desafia a lógica do setor produtivo com sua proposta de fixar preços mínimos, não máximos. O subsídio sobre o óleo diesel espantou os importadores privados e tornou mais rarefeito um mercado já dependente do monopólio virtual de refino da Petrobras. Se no início o movimento dos caminhoneiros contou com apoio até de entidades empresariais, fica mais claro a cada dia que deixou uma herança amarga na boleia.