Subestimado há até poucos meses, o impacto dos preços de gasolina e diesel, agravado pela alta do dólar, começa a aparecer na inflação. Depois de ficar quase invisível em março (variou 0,09% no mês), o IPCA de junho deve recuperar a silhueta robusta quando o IBGE anunciar o resultado, na sexta-feira. A expectativa é de que encoste em 1%, turbinado por custos que dispararam com a greve dos caminhoneiros.
Caso se confirme, a inflação acumulada em 2018 vai quase dobrar em 30 dias. No Estado, a alta de 10,6% no preço da gasolina no primeiro semestre, contribui para esse movimento. No Relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (2), analistas já situam o IPCA de 2018 em 4,03%. Foi a primeira vez no ano em que a projeção ficou acima do centro da meta do Banco Central (BC) para 2018, ainda que por pouco. Não deve ser manter nesse patamar, mas fez estrago.
Com o diesel subsidiado, o futuro dos preços da gasolina também depende de outro energético de dragão, o dólar, porque boa parte do consumo é abastecida por importações. Nesta segunda-feira (2), a moeda americana fechou em R$ 3,91 – maior patamar desde 7 de junho, quando havia alcançado R$ 3,925. Novas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram o principal ingrediente do aumento de risco.
Depois de período de relativa estabilização em junho, a cotação voltou a desafiar o patamar de R$ 3,80. Na tese de vários operadores, era o teto aceito pelo BC, porque houve intervenção sempre que passou dessa faixa. Não por acaso, as estimativas do mercado no Relatório Focus de ontem situaram o dólar em R$ 3,70 no final deste ano. E o IGP-M, indicador de preços mais afetado pelas verdinhas, já se aproxima dos 8% até o final do ano na média das previsões. Há risco de aumento da pressão por elevação no juro básico.