A venda do controle da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas, representa mais do que um negócio para o Rio Grande do Sul. Caso seja bem-sucedida, pode simbolizar um novo momento na história econômica do Estado. Inaugurada em 1968, durante a ditadura,
a refinaria evoca tanto o nacionalismo de Getúlio Vargas, que determinou estatização do setor de petróleo, quando o nacional-desenvolvimentismo do regime militar.
No Estado, nasceu a primeira refinaria do país, a Ipiranga, em Rio Grande.
O negócio, que se expandiu para postos e petroquímica, foi vendido em 2007. Na década de 1930, quando surgiu, tinha sócios argentinos e uruguaios, que tiveram de ser nacionalizados por força da regra de Vargas. A indústria foi confinada a seu tamanho na época e resiste até hoje, nas mãos de dois grupos privados e da Petrobras.
O Estado também assistiu, com exclusividade, outro teste na gestão de instalações de refino. Entre 2001 e 2010, a Refap foi a única unidade da Petrobras a ter um sócio privado, a espanhola Repsol. Durante o período, a lógica privada – máximo retorno – e pública – manter o monopólio – trombaram várias vezes. Na época em que a volta de algo parecido com o nacional-desenvolvimentismo dos anos 1970 havia voltado à moda, a Petrobras recomprou a fatia do sócio estrangeiro.
A justificativa foi permitir investimento na ampliação da refinaria. Quem comandou o processo de recompra, em 2010, foi um personagem que se tornou mais conhecido anos depois: Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de abastecimento da estatal.
Ter controlador privado na Refap vai blindar a refinaria à corrupção? Certamente não. Embute outro tipo de desafios. Mas o acúmulo de crimes que teve a Petrobras como vítima, desta vez, abre espaço para a experiência.