O assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) é um daqueles momentos de inflexão na vida de um país. É um claro desafio da criminalidade institucionalizada – há mais suspeitas sobre milícias do que sobre traficantes – às mínimas regras de civilização de um país.
Sem ação rápida, mas efetiva, o Brasil se aproxima perigosamente, em pleno século 21, do cenário da Colômbia nos anos 1990, quando políticos e líderes da sociedade civil eram mortos às dezenas e à luz do dia. A matança desestruturou política, economia, vida cultural e social. Quase arruinou o maior produtor de coca do mundo, na época.
O recado passado pelas quatro balas na cabeça de Marielle Franco e as três nas costas de Anderson Gomes, seu motorista, é de que não há regras. Ou que há grupos que não precisam seguir sequer as mais básicas.
No país em que o núcleo do poder é investigado, condenados são soltos pelo mais alto tribunal de justiça do país e propinas milionárias seguem sendo pagas depois de quase quatro anos de uma das maiores operações policiais já realizadas, o sistema de normas foi posto em xeque. Embora isolada, a iniciativa do partido espanhol Podemos de pedir no Parlamento Europeu a suspensão das negociações do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul dá a medida da reação internacional.
A resposta não é repressão violenta ou prisão dos suspeitos de sempre. Deve ser cirúrgica, precisa e rápida. Ao mirar efeito eleitoral com a intervenção federal no Rio de Janeiro, o governo arrastou para o Planalto a responsabilidade sobre a crise de segurança no Estado. Agora tem a comoção provocada pela morte de Marielle e Anderson nas mãos. Ou entende o tamanho do desafio ou compromete não apenas sua viabilidade, mas a do país.