Quase dois anos depois da chegada de Hermínio de Freitas como novo CEO da Paquetá Shoe Company o grupo gaúcho dá sinais de ter passado o período mais duro da crise, quando precisou lidar com pesado endividamento. Em 2017, o faturamento se manteve acima de R$ 2,2 bilhões, embora o número de colaboradores tenha encolhido de perto de 18 mil em 2015 para 15,5 mil no ano passado. Freitas afirma que agora o quadro de pessoal deve se estabilizar, porque está adequado ao cenário econômico, mas novas mudanças estão na mira do grupo que tem 246 lojas, entre próprias e franqueadas, oito unidades industriais – duas no Rio Grande do Sul, quatro no Nordeste, uma na Argentina e uma na República Dominicana, onde também produz sob encomenda de grandes marcas globais, como Adidas e Asics. Da receita total, R$ 930 milhões vêm do varejo, e o restante, da indústria e das marcas, como a infantil Ortopé. Abaixo, Freitas detalha o futuro de uma das escassas empresas de faturamento bilionário no Estado.
Ajuste ao cenário
"A receita ficou um pouco menor do que em anos anteriores, mas a empresa está mais saudável. Em 2016, fechamos lojas deficitárias e ficamos apenas com as que tinham margem operacional positiva. Saímos de shoppings e áreas do Nordeste e até do Rio Grande do Sul que não estavam contando com a força da marca. Foram principalmente lojas Paquetá Esportes fora do eixo RS-SC que foram abertas entre 2013 e 2014 no centro do país e no Nordeste. Mas em 2017 já voltamos a elevar o número de unidades de Paquetá e Gaston, de 150 para 154, por força de contratos que já tínhamos, como com shoppings em Canoas e Santa Maria."
Modelo de negócio
"Em 2018, estamos focados na melhora da rentabilidade do varejo e em um modelo de negócios que consideramos bem sucedido, que é o das lojas Gaston, aqui, e Esposende, no Nordeste. Todas estão com boa rentabilidade, são lojas para famílias das classes B e C. A Paquetá vai continuar existindo, mas vamos ter mais lojas com o perfil da Gaston. Queremos posicionar as marcas no seu devido nicho. A Esposende é uma rede adquirida entre 2006 e 2007. Na época, havia 35 pontos de venda, agora são 68. Cresceu bem, até porque no Nordeste houve muita oportunidade. A tendência é de, onde houver oportunidade de ampliar esse modelo, vamos fazer, porque está funcionando bem. O Brasil vai voltar a crescer, mas o poder aquisitivo não vai voltar tão cedo ao que era antes da crise. A bandeira Paquetá volta a ter apelo de moda."
Endividamento
"O juro naturalmente mais baixo ajuda a equacionar a questão do endividamento. Um estresse que tínhamos nesse período era o prazo. A dívida estava muito concentrada no curto prazo, de cerca de um ano. Já alongamos boa parte, cerca de 60%. Mas esse é um trabalho em andamento. O objetivo é garantir que sobre dinheiro para fazer investimentos, mesmo de manutenção. Vamos terminar essa tarefa para ter um perfil de endividamento condizente. Estamos revendo o plano estratégico e colocando foco no varejo. Vamos definir a posição de cada bandeira, o negócio de monomarcas entrou em fase de crescimento de novo com abertura de franquias. O mercado vem respondendo bem e a empresa segue saudável. O desafio nosso é manter a estrutura interna ágil, leve, sem onerar a operação."
Concorrente global
"Nesse período, reduzimos o escopo geográfico da Paquetá Esportes, readequamos a localização das lojas, reduzimos o tamanho e focamos em categorias nas quais queremos participar. Focamos em em corrida, treinamento na academia e em esportes específicos, como futebol e vôlei. O modelo ter tudo para todas as modalidade não necessariamente funciona bem. Tentamos corrigir fraquezas, trabalhar com grandes marcas. Grandes concorrentes, como a Decathlon, têm marcas próprias. Nosso cliente quer tênis de determinada marca, encontra na Paquetá Esportes. A Decathlon é uma concorrente respeitável, mas cada um tem seu modelo e tem funcionado. A Paquetá Esportes é uma marca forte no sul do Brasil. Foi necessário fazer revisão para ter lojas que atendam seu mercado."