Típico caso de empresa que se beneficiou com a crise, devido à troca de marcas líderes por outras de menor preço, a Girando Sol, de Arroio do Meio, mergulhou na crise a bordo de uma fábrica nova em folha. Enfrentou problemas? Pelo contrário, relata seu presidente, Gilmar Borscheid. A fabricante de mais de 140 itens de produtos de limpeza tem 300 funcionários diretos e 600 indiretos. É a segunda de maior arrecadação de ICMS no município e em mão de obra. No ano passado, aumentou o faturamento em 15%. Neste ano, a previsão é mais modesta, de 6%, mas no próximo já aposta em 10%. Aposta que, depois que o consumidor descobriu que seus produtos entregam o mesmo resultado dos mais caros, não trocarão de marca.
– Estamos aprendendo a gastar melhor – avalia.
Foi difícil inaugurar uma fábrica em plena crise?
A empresa sempre foi focada em produtos de qualidade com preço justo. Investimos toda energia no que o consumidor realmente percebe. Por exemplo, o amaciante é feito para amaciar e perfumar. O restante, como embalagem, tampa, caixa de papelão, todos os periféricos que muitas vezes o consumidor não percebe, a gente procura usar o mais econômico possível. A intenção é proporcionar uma experiência muito boa ao comprar o produto, para fidelizar o consumidor. Temos uma empresa muito enxuta e isso tudo faz com que a gente consiga entregar um produto de alta qualidade e preço justo, mais barato do que o de grandes multinacionais, que têm custo de marketing, uma série de coisas embutidas no preço.
Para lembrar, porque a Girando Sol quis fazer esse investimento?
Como a linha caiu na graça do consumidor, o consumo foi aumentando. Passamos a alugar prédios, havia um pavilhão no centro da cidade, usamos todo o espaço lá. Em 2001, alugamos mais um prédio em Lajeado, onde começamos a produzir água sanitária, desinfetante. Em 2006, abrimos uma filial, onde passamos a produzir 100% das embalagens. Também lançamos o sabão em pó. Quando vimos, as três unidades estavam com toda a capacidade instalada ocupada. Ou se alugava um novo prédio e ia emendando, ou construía. E foi o que decidimos. Em 2008, fizemos um planejamento estratégico até 2030, e onde previmos crescimento, construção do parque fabril, linhas de produção e de produtos. Em 1º de abril de 2016, quando completamos 25 anos, fez a inauguração do novo parque fabril. As pessoas brincam com o 1º de abril, mas para nós está dando muito certo, e não é mentira. O investimento foi algo em torno de R$ 40 milhões, talvez um pouquinho mais.
Por que decidiram fabricar embalagens, o que não é muito comum em fabricantes de produtos de limpeza?
Cem por cento das embalagens são produzidas aqui. Só não fazemos as tampas, porque isso exige investimento muito alto e existem indústrias especializadas. É outro sistema, de injeção. Aqui, fazemos toda a parte de sopro (extrusão). São cerca de 16 máquinas. Agora partimos para a segunda fase, que é a mudança da identidade visual.
Esse novo posicionamento tem a intenção de se diferenciar da concorrência?
Sim, diferenciar nossos produtos e, como dizemos na empresa, entregar a promessa. Não é fazer nada que não possa cumprir.
O sucesso da Girando Sol atraiu mais concorrentes para esse segmento?
Passa por isso também. Como temos o nosso benchmarking (referência externa de qualidade), nossos concorrentes um pouco menores acabam se espelhando no nosso caso também. Somos uma empresa regional, mas muito forte. Tenho quase a coragem de dizer que hoje 90% das casas do sul do Brasil têm ao menos um produto Girando Sol. Uma pesquisa da revista Supermercado Moderno mostra que, das 11 famílias de produtos que produzimos, 10 estão entre as cinco mais vendidas. Temos produtos com primeiro e segundo lugares de venda. Atuamos também em Uruguai, Paraguai e Chile. Nos dois últimos, somos o terceiro maior importador no segmento de limpeza.
Hoje vocês estão com capacidade total na fábrica?
Não, projetamos o espaço, a estrutura física, para 15 anos. O equipamento a gente vai adequando conforme a tecnologia disponível para a época. Hoje estamos em 70% da capacidade.
A Girando Sol é um caso típico de empresa que se beneficiou da crise?
Fomos muito beneficiados. Não vou dizer que crescemos na crise, mas que nos diferenciamos na crise pelo preço justo com qualidade. O consumidor experimenta nosso produto, percebe que não tem diferença em relação aos líderes e continua a comprar. Com a economia retraída, nosso crescimento demonstra isso. Mas começou ainda antes. Nos últimos 20 anos, a empresa sempre cresce 3 a 4 pontos percentuais acima do PIB. Para este ano, estamos com projeção de crescimento de 6%.
Vocês apostam em retomada?
Acredito muito que o país vai se reencontrar, está se reencontrando, a economia está se desvinculando da política, o que é um bom sinal. Talvez esse desprendimento ainda não seja total, existem algumas indústrias importantes que ainda são estatais, mas a economia já dá sinais de que anda sozinha. Estamos com muito otimismo, sabemos que teremos de trabalhar a mais, mas o consumidor aprendeu a gastar melhor o dinheiro. É a grande mudança que percebo, que o consumidor evoluiu com a crise, percebeu que pode gastar melhor. Vejo por mim e pelos meus familiares que estamos aprendendo a gastar melhor o dinheiro.