Momentos antes de ser anunciada a dupla denúncia contra o presidente Michel Temer, dois ministros e vários ex-auxiliares, a Procuradoria-Geral da República revogou todos os acordos originados da delação da JBS. Isso permitiu que um dos últimos atos de Rodrigo Janot no cargo ganhasse peso extra: corruptores e corrompidos enfrentam juntos a acusação que pode transformá-los em réus.
Embora o envolvimento de grandes empresários, no distante novembro de 2014, tenha sido o motivo da visibilidade da Lava-Jato – já na sétima fase –, até agora os processos avançavam em paralelo. No caso do empresário Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, a prisão, no domingo, já havia indicado o futuro do acordo que mais incomodara os brasileiros até agora, pela profunda percepção da injustiça.
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O que entrelaça esses atores está na página oito da denúncia de 224: é o “crime de embaraço às investigações”. Segundo Janot, é o que uniria Michel Temer, Eduardo Cunha, Lúcio Funaro, Joesley Batista e Ricardo Saud, para evitar delações premiadas que expusessem o grupo.
O fato de Janot visar o “quadrilhão do PMDB” não o impede de citar as relações espúrias de Joesley com o ex-ministro Guido Mantega, quando Temer ainda era um aliado do PT.
A segunda denúncia não deve ter destino diferente da primeira, que parou no Congresso. Mas a união das duas pontas de um processo que corrói há três anos economia, paciência e saúde mental deveria ajudar a derrubar o maniqueísmo das torcidas por malvados favoritos. A reação na atividade está mais relacionada com a planície do que com o Planalto. E há poucos inocentes.