Não foram poucos os votos em nome da "estabilidade na economia" para justificar a aprovação do relatório que impede o prosseguimento da investigação contra o presidente Michel Temer. Em sinal de que o mercado financeiro pensa o mesmo, a bolsa se animou e subiu 0,93%. O Ibovespa alcançou 67 mil pontos pela primeira vez desde a delação da JBS, ainda antes do resultado, estimulado pelo quórum folgado que confirmava resultado positivo com sobra ao governo.
Mas se esse capítulo da crise terminou com vitória de Temer na Câmara, também está marcado por derrota na gestão dos cofres públicos. As próximas cenas se encaminham para a revisão da já leniente meta fiscal. Será preciso abrir espaço para rombo acima dos R$ 139 bilhões previstos, que embutirá o custo do resultado.
– A gente está pagando o preço da sobrevivência política do Executivo atual – disse à coluna José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
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É preciso observar que Senna considera o governo Temer "um caso fora do padrão histórico" por conta da aprovação do teto dos gastos. Avalia que a iniciativa "teve efeito na ancoragem das expectativas, abrindo espaço para queda importante da inflação". O economista não é crítico militante do atual governo. Por isso, convém prestar atenção quando Senna avalia que "o resultado prático de alargar a meta é o mesmo de resolver via aumento de imposto".
– Dá sinal de que não é tão importante segurar o dispêndio público – reforça.
Até o final do mês, quando a revisão for anunciada, projeta o especialista, não será bem recebida, porque será considerada um passo atrás. Mas não prevê grande solavanco nos preços de mercado. Na sua avaliação, o impacto será proporcional ao tamanho da revisão. Um valor abaixo do registrado no ano passado – R$ 154 bilhões de déficit – suavizaria a reação.
– O pior da macreconomia é o crescimento real do gasto público de 6% ao ano em duas décadas e meia. É preciso pôr fim a esse processo. Alargar a meta ou aumentar impostos é sinônimo de entregar os pontos – alerta Senna.
A defesa da estabilidade econômica declina da responsabilidade pelo voto.