Apenas quatro dias depois de anunciar a ampliação da planta de Gravataí, com investimento de R$ 1,4 bilhão, a General Motors (GM) decidiu suspender a produção no complexo industrial da cidade. O motivo, segundo comunicado da empresa, é a "insegurança" causada pelas manifestações dos caminhoneiros. A medida é a mais drástica já tomada no Estado, porque a empresa informa que só retomará a atividade quando "existirem condições seguras de transporte de materiais do Porto de Rio Grande até a cidade de Gravataí".
Até agora, não há sinais de efeito em cascata da mobilização, coordenada pela União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) em protesto contra o aumento da cobrança de PIS/Cofins sobre óleo diesel, em disputa judicial. No entanto, o impacto sobre cargas perecíveis parece ser mais forte. Por conceito, automóveis produzidos em Gravataí não são "perecíveis". Mas como são transportados, tanto para exportação quanto para o mercado interno, em cegonheiras abertas, ficam exposto a estragos provocados, por exemplo, por pedradas – uma das "ferramentas" para dissuadir motoristas usada pelos manifestantes.
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A falta de peças é outro problema que começa a afetar a GM – e podem chegar a outras indústrias que operam com estoque ajustado de insumos, um dos mantras da eficiência de inspiração japonesa. Como os caminhões que abastecem com partes e materiais não chegam, faltam componentes para alimentar as linhas de produção.
A GM de Gravataí é, até agora, a única da plantas da montadora no Brasil que suspendeu a produção por conta da mobilização. Não por acaso, também é a mais moderna e mais ajustada aos princípios de produção praticamente sem estoque. Caso o problema se prolongue, não se pode descartar que outros segmentos sejam obrigados a fazer o mesmo.
Apesar do motivo justo – a alta do combustível provocada pela necessidade de recompor as contas públicas do governo federal –, o instrumento adotado pelos caminhoneiros também é uma pedrada nos sinais perecíveis da retomada. Fragilizada pela recessão e pelo desemprego, a atividade produtiva esboça sucessivas tentativas de reação, ainda sem engatar um ritmo consistente. As pedras lançadas nas rodovias podem se tornar obstáculos para o fim da recessão.