Esta é a história individual de uma vida, não uma sugestão de que todos façam o mesmo e, muito menos, uma alusão velada ao destino dos brasileiros pós-reforma da Previdência.
Aos cem anos recém-completados, um funcionário do Hospital São Francisco de Paula, da cidade homônima na Serra, é o xodó dos colegas. João Brambilla, carinhosamente chamado de "nonno" pelos amigos do trabalho, está no hospital há 35 anos – assinou carteira aos 88, em 2005. Passou a atuar na instituição depois de construir, com um colega pedreiro, a igreja ao lado. Desde 1982 ajudando na manutenção do hospital, Brambilla agora cuida da horta de onde saem as verduras que alimentam os pacientes. Planta e, se for preciso, faz a capina, como mostra a foto.
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Nascido em Nova Milano, Brambilla foi ferreiro até os 16 anos. Recorrendo à memória invejável, lembra que aos 20 virou soldado, de número 418, do 3º Regimento de Cavalaria de Guarda em Porto Alegre. Seu cavalo era o 883. Em 6 de abril de 1961, desembarcou, já casado, em São Francisco de Paula, de onde não saiu mais.
– Cheguei em 1961 e não me deixaram mais ir embora. Se vier pra cá, aviso: não toma água da bica, se não tu não vai mais embora – brinca. – O que eu mais gosto, aqui no hospital, é que todo mundo me trata bem, como se eu fosse um filho.
Brambilla tem saúde de ferro, mantida a doses regulares de chimarrão e café – na direção do hospital, o nonno "bate ponto" perto das 13h, quando bebe um recém-passado e conversa com os colegas. Não toma leite nem bebida alcoólica. Apenas a audição está um pouco fraca e, por isso, ele contou com a ajuda da auxiliar de faturamento Graziele Silva para conversar por telefone com a coluna. Na sexta-feira, não foi possível entrevistá-lo: chovia em São Francisco de Paula, e Brambilla não sai de casa com frio ou mau tempo, um cuidado especial da instituição, que também reduziu a carga horária devido à idade do colaborador.
Para comemorar os cem anos de Brambilla – no último dia 24, como o padroeiro –, os funcionários do hospital e a família – quatro filhos, seis netos e um bisneto, além de outros dois bisnetos que devem nascer em breve – organizaram festa no CTG Rodeio Serrano. Gremista fanático, ganhou camisa do time com seu nome e o número 100. A festa foi aprovada pelo aniversariante:
– Foi a coisa mais linda do mundo. Comi arroz com galeto e bolo – conta Brambilla.
Questionado sobre os planos de se aposentar definitivamente, o nonno reage com bom humor:
– Acho que com 180 anos está bom.