O lançamento de um empreendimento com quatro torres residenciais e área comercial, com passarelas de vidro ligando os prédios, com valor geral de venda (projeção de quanto deve faturar) de R$ 130 milhões em Santa Maria já seria notícia nestes tempos difíceis. Se o nome do complexo é Espírito Santo e as torres A, B, C e D são idenficadas por cores e nomes incomuns: Amor (vermelho), Bondade (azul), Caridade (verde) e Divindade (amarela), é bom dar mais atenção a essa história. O projeto é do proprietário da Construtora Jobim, Gustavo Jobim, 46 anos.
Negócio com história
Antes de explicar o "conceito" do novo conjunto, o empresário lembrou que o anterior se chamava São Pio, um santo italiano canonizado em 2002. O prédio foi entregue, mas ainda não está 100% concluído, explica. Falta ornamentar para entregar a capela. Pausa. Capela? Sim, e vai haver outras duas no Espírito Santo. Uma será de uso interno dos moradores, outra ficará "sempre aberta" – com segurança – no Bulevar Irmã Neida, que terá ainda estátuas da Sagrada Família (José, Maria e Jesus), três arcanjos, mais oito santos, entre os quais Nossa Senhora de Fátima, Francisco de Assis, Vicente Palotti, Irmã Dulce. E mais 31 lojas em uma área de 16 metros de largura por 120 metros de comprimento.
– É uma maneira de evangelizar por meio dos empreendimentos.
Religioso, não fanático
Gustavo Jobim diz ser religioso, mas não fanático. Explica que seus "homenageados" – todos escolhidos pessoalmente – têm um traço comum: são santos que, antes do reconhecimento, enfrentaram problemas com o clero ou com o Vaticano. Segundo o empresário, a escolha tem origem em experiências pessoais:
– Passei por momentos bem difíceis. Foi por meio da fé e do pedido a Deus que consegui reconstruir.
Entre as dificuldades, cita a morte de um funcionário no canteiro de obras, em 2007, e o desmoronamento em um terreno no centro da cidade em 2009:
– Foram coisas que me abalaram muito, pensei até em desistir de construir. Em vez disso, mudei minha vida, estruturei melhor a empresa. Acabei entrando nesse caminho, mais religioso. Quando quis chamar o prédio de São Pio, me questionaram, disseram que algumas pessoas poderiam não gostar. Eu respondi 'eu gosto, quem gostar vem com a gente'.
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Sucesso em vendas
O terreno do Espírito Santo é uma raridade. Com 61 mil metros quadrados, foi comprado da AES Sul (hoje RGE Sul) quando a empresa fez uma "limpa" nos ativos herdados na privatização de parte da distribuição da CEEE, por isso é conhecido em Santa Maria como o a área da antiga CEEE. Não chega a ser uma quadra inteira, mas um grande área entre duas ruas, portanto tem duas frentes. A torre Amor será entregue em 2018, a Bondade, em 2019, a caridade, em 2020, e a divindade, em 2021. E como estão as vendas?
– Um sucesso, está vendendo tão rápido que não paramos pra fazer a conta de quanto já foi. É um produto para a região. Desde 2002, focamos em imóveis de um dormitório. Agora, temos com dois, com preço em torno de R$ 150 mil. E financiamos com recursos próprios, o que facilita, nessa época de crédito difícil. A gente tem gás, está há 22 anos no mercado.
Ajuda d'Ele
Sem parentesco com o Jobim mais famoso de Santa Maria – o ex-ministro Nelson Jobim –, Gustavo relata que seu avô era motorista de ambulância, fez o básico de engenharia civil e administração até o sétimo semestre mas não terminou o curso por ter começado a trabalhar cedo. O pai deu o primeiro empurrão e foi seu sócio nos primeiros 10 anos, depois o empresário comprou a parte do pai para que pudesse ajudar os outros irmãos. Antes de começar a vender as unidades do Espírito Santo, foi preciso ficar sem negociações por nove meses, segundo o empresário por falta de incorporação – a divisão proporcional da frações de terreno por unidade habitacional ou comercial.
– Ficamos sem venda durante nove meses no meio de uma crise. Quando a gente se agarra com Ele, tudo fica mais fácil.