A bolsa subia e o dólar recuava, nesta quarta-feira (12), até perto de 14h. Os dois movimentos eram discretos, associados à aprovação da reforma trabalhista e a sinais de mais cautela com a recuperação dos Estados Unidos – que embute mais "prazo" para o Brasil se equilibrar antes de enfrentar juro mais alto e dinheiro mais curto por lá.
Assim que saiu a notícia da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo juiz Sergio Moro, os dois movimentos se acentuaram: o da bolsa para cima, o do dólar, para baixo. O indicador das ações fechou com alta de 1,57%, em 64,8 mil pontos, e a moeda americana, com baixa de 1,35%, em R$ 3,21.
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O mercado financeiro reagiu dessa forma porque, depois que a eventual substituição do presidente Michel Temer foi "precificada" – embutida nos valores de ativos como ações e moeda estrangeira –, a maior instabilidade prevista no horizonte dos investidores e especuladores é a eleição de 2018.
Lula aparecia nas pesquisas eleitorais como um dos favoritos na próxima corrida presidencial. O temor era de que uma eventual eleição de Lula trouxesse de volta a chamada "nova matriz econômica", praticada no governo Dilma, à qual muitos agentes econômicos atribuem a desorganização das finanças públicas no Brasil.
– O mercado hoje vê uma eventual eleição de Lula em 2018 como principal risco a um cenário positivo de longo prazo. Como essa probabilidade diminuiu, os investidores avaliam que podem reduzir o prêmio de risco embutido nos preços – explica Marcos Bismarchi, sócio e gestor da Tag Investimentos.
Como já era esperada, embora não com data certa, a decisão não fez a bolsa disparar, nem o dólar a despencar. Além disso, os investidores sabem que Lula só se torna inelegível caso a sentença de Sergio Moro seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, antes de outubro de 2018.
Menos ruído
A consultora da Órama Investimentos Sandra Blanco vê conexão entre reforma trabalhista e sentença de Lula:
– O mercado precifica o que vem nas eleições de 2018. Com a condenação, avaliam que o cenário pode mudar para melhor. Ele liderava as pesquisas, o que gera ruído. Como seria a nova equipe econômica se Lula fosse eleito? Ele adotaria o modelo de antes? O mercado se antecipa a uma melhora que virá com as reformas da equipe econômica.
Mais cautela
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, viu com ceticismo as inflexões na bolsa e no dólar.
– O mercado se apressou. Esses movimentos são típicos de certa reação irracional. Amanhã, começa a pensar melhor.
Embora tenha racionalidade – Lula foi um dos mais destacados opositores das reformas –, Perfeito lembra que é uma decisão de primeira instância. Fragiliza, mas não inviabiliza uma eventual candidatura de Lula para 2018.
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O mercado de juros futuros, que reflete a percepção de risco, teve ontem a maior queda em sete semanas. Esse movimento já vinha ocorrendo, desde que o IPCA mostrou inflação, mas se acentuou nesta quarta. É parte Lula, parte melhora de cenário interno.