Há um limite no custo fiscal da sobrevivência de Michel Temer no poder. Dessa vez, essa inquietação não foi expressa pela coluna, mas por um economista muito ligado à atual equipe econômica. Em participação no Globonews Painel do último final de semana, Samuel Pessôa, um economista ortodoxo com grande proximidade a integrantes do grupo que, ao entregar alguns indicadores menos negativos na economia, tornou-se o maior fiador do mandato, manifestou sua preocupação:
– A questão-chave é saber quanto vai custar fiscalmente para Temer se manter no governo. Se ficar muito caro, aí a equipe econômica não vai gostar.
Na avaliação de Pessôa, se nada dramático afetar o câmbio, o "supreendente" comportamento da inflação permitirá redução ainda maior do que a já esperada no juro básico até o final do ano. Isso, por sua vez, dá um certo alívio ao endividamento. Analistas projetam que, se a taxa fechar o ano em 10% – está só 0,25 ponto percentual acima –, o Brasil economizaria R$ 75 bilhões na rolagem da dívida pública em 2017.
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Os títulos com vinculação direta à Selic correspondem a quase metade do total da dívida (ao redor de 45%). Até a semana passada, a média das expectativas do mercado era de um juro básico de 8,5% ao ano até dezembro. Se Pessôa projeta uma redução maior do que a esperada, a economia na maior despesa isolada do governo federal – quase o dobro da rubrica da Previdência – será ainda maior.
Mas esse comportamento, advertiu o economista, está condicionado ao que chamou de "aplicação de ortodoxia pura" – redução da irresponsabilidade fiscal, da inflação e, por consequência, do juro. O temor de Pessôa é de que essa trajetória possa ser interrompida por manobras bruscas do Planalto.
– No imbróglio político para manter o poder nas mãos de Temer, qual vai ser o custo? Se começa a fazer puxadinho de nova matriz econômica, Refis em condições absurdas, liberar crédito para esse ou aquele Estado, alterar as condições do BNDES, (...) aí acho que a equipe econômica vai ter dificuldades de se manter no poder – alertou Pessôa.
Melhor cuidar tanto das "maldades" quanto das "bondades".