Pela primeira vez neste seu primeiro ano de mandato, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, adotou estratégia de "vacina contra a turbulência". Em entrevista a sua assessoria publicada no próprio site do BC – tática inédita em seu período à frente da instituição –, avisou que "o caminho da desinflação e da redução de juro está dado". Em bom português: aconteça o que acontecer, haverá espaço para cortar o juro básico.
Não havia temor de repetição do pânico pós-delação da JBS no primeiro dia útil depois da publicação da pesada entrevista de Joesley Batista à revista Época, em que acusa o presidente Michel Temer de ser "chefe da organização criminosa mais perigosa do Brasil". Por via das dúvidas, o coordenador-mor de expectativas econômicas do país resolveu dar sua contribuição para que isso de fato não ocorresse, tanto no site do BC quanto nas conversas durante esta segunda.
Leia mais
Temer é fator de estabilidade ou, a essa altura, de turbulência?
Economia não pode ser trincheira de governo em perigo
Economia respira, ao menos em abril
Ao longo do dia, o ministro Henrique Meirelles se encarregou de renovar a ração antiestresse. Disse que estão avançando as regras para privatizações e concessões, que vão permitir maior participação privada. Soou como música para quem dá os primeiros sinais de como o capital reage às informações. Com tempo para preparar vacinas, a estratégia funcionou.
– Quanto maior a crise, mais importante é o BC, para coordenar expectativas. Política monetária exige muita comunicação – avalia Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.
A coordenação foi afinada e deu um dia de trégua no front econômico. No discurso de Ilan, há recados para fora e para dentro do governo. Diante do quase consenso de que um suposto "pacote de bondades" seria disfuncional – passaria mensagem de irresponsabilidade fiscal –, o presidente do BC condicionou: "se tivermos ajustes (...) as incertezas sobre a economia diminuem".