O pedido de demissão de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES pode ter a justificativa oficial de "motivos pessoais", o que é absolutamente pro-forma. Quem acompanha a trajetória da economista identifica com relativa facilidade a causa real: a incompatibilidade com um governo que perdeu a pouca legitimidade que tinha ao ser engolfado pelo escândalo de corrupção.
Além da lama que subiu no Planalto Central, Maria Silva vinha enfrentando uma questão específica: estava sendo pressionada para "liberar os cofres" de um dos bancos públicos ainda em recuperação depois da liberação de recursos aos bilhões para empresas como Oi (em recuperação judicial, com dívida de R$ 65 bilhões), JBS (a protagonista dessa fase aguda da crise política) e algumas das antigas empresas do grupo de Eike Batista.
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O que todo o setor privado, seja do segmento produtivo ou do mercado financeiro, pergunta-se agora é se Maria Silvia é um caso isolado ou se representa o começo do fim do maior ativo de confiança do governo Temer,
a equipe econômica. Como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é cotado até para suceder Temer, não deve entrar nas listas de "próximos". Mas os presidentes do Banco Central, Ilan Goldfajn, e da Petrobras, Pedro Parente, têm potencial para acompanhar a decisão de Maria Silvia.
Assim que a informação se tornou pública, a bolsa de valores perdeu quase 300 pontos em menos de cinco minutos. No sábado, em seu segundo pronunciamento depois da delação da JBS, Temer havia citado Maria Silvia e Parente como símbolos de eficiência e "moralização" de seu governo:
"O BNDES mudou no meu governo. A presidente Maria Sílvia moralizou o BNDES. Botou ordem na casa. E tem meu respeito e meu respaldo para fazê-lo. Assim como Pedro Parente o fez na Petrobras."
Na voz do próprio presidente, com a perda de Maria Silvia, o governo perde moral.