A coluna confessa: usou uma expressão da revista britânica The Economist para o título aí de cima. Mas a publicação empregou o termo antes da última façanha dos irmãos Joesley e Wesley: ter conseguido fechar o acordo de leniência "lucrando" R$ 900 milhões mesmo depois de todo o país ter execrado os termos excessivamente lenientes da colaboração premiada. No dia 19 de maio, a sexta-feira seguinte à revelação do teor da delação, a empresa dos irmãos Batista se negou a fechar um acordo com multa de R$ 11,2 bilhões, a ser paga em 10 anos. Havia oferecido R$ 1,4 bilhão. Como a negativa só foi conhecida na madrugada de sábado, foi na segunda-feira seguinte que o mercado reagiu, derrubando o valor das ações da JBS em 31,34%, uma das maiores quedas da história das companhias de capital aberto do Brasil.
A partir de então, havia uma expectativa: como os empresários haviam rejeitado o acordo proposto e havia reação quase consensual – popular, empresarial e no judiciário – aos termos da delação, a nova negociação da leniência seria mais severa. Na noite de terça-feira, 30, o acordo foi fechado por R$ 10,3 bilhões. Na linguagem que os Batista mais entendem, o episódio rendeu um ganho de R$ 900 milhões. Ou seja, para eles, na ponta do lápis, valeu a pena peitar o Ministério Público Federal. No final da manhã de quarta, as ações da JBS subiam quase 6% na bolsa de valores.
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Tem razão a Economist: os irmãos Batista são mesmo fabulosos. Agora, a melhor expectativa de punição exemplar para os empresários repousa na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), conhecida como a "xerife do mercado de capitais", mas cuja estrela andava meio enferrujada. O episódio da gravação da conversa de Joesley com o presidente Michel Temer parece ter funcionado como um banho antioxidante: a CVM abriu oito processos administrativos contra a JBS (confira abaixo), sua holding e outros sócios até agora ocultos dos Batista. Segundo a Economist, "enquanto a JBS estava comprando rivais, os Batistas (eles usam com 's') estavam comprando políticos". Os fabulosos só fecham bons negócios.