A cada operação de investigação ou depoimento de ex-executivos da Petrobras, fica mais claro o papel do caixa da empresa como provedor-geral de propinagem e corrupção. O de Renato Duque, nesta sexta-feira, acrescentou detalhes a um processo já conhecido e elevou temperatura e pressão sobre o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na próxima semana.
Do ponto de vista econômico, a investigação ajuda a entender como a estatal chegou à situação de petroleira mais endividada do planeta. Não foi só a corrupção – houve o efeito da queda do preço do petróleo e da defasagem na correção de preços entre a importação e a venda interna. O fato é que a Petrobras ficou sem caixa e com escassas opções para se financiar e fazer frente aos investimentos que precisa completar. Esse é um dos entraves para a manutenção da políticade conteúdo nacional.
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Sem recursos próprios e com escassez de crédito, a estatal recorre – desde o governo anterior, é bom lembrar – a financiamento internacional. O problema é a prática de que a concessão de créditos venha amarrada ao compromisso de compra de equipamentos e serviços da mesma bandeira. Para garantir a manutenção de encomendas à indústria nacional, portanto, é preciso solucionar a questão da fonte de recursos.
Um dos raros remanescentes é o Fundo da Marinha Mercante (FMM). Representantes da indústria nacional reivindicam esse recurso para que não cesse completamente a ativividade de um segmento ressuscitado há uma década. O problema é que, em 2016, o FMM totalizou R$ 3,45 bilhões em financiamentos. O valor mal cobre duas plataformas do porte da P-55, a última a ser completada no polo naval de Rio Grande. O desafio é construir uma solução que não apenas mude o beneficiário da bolsa, como apontam os críticos das mudanças.