Ouça aqui a coluna de Marta Sfredo
Feitas as contas, vai sobrar reforma da Previdência para os próximos governos. A avaliação oficial é de que os recuos da gestão Temer tiraram de 20% a 30% da economia inicialmente prevista. Em números, o governo tinha perspectiva oficial de reduzir gastos de R$ 818 bilhões em prazo de 10 anos. Com as mudanças já computadas, havia caído para R$ 630 bilhões no mesmo prazo.
Mesmo depois de Temer ter afirmado que fechara a porteira – não haveria mais recuos –, uma nova regra foi flexibilizada nesta quarta-feira. O tempo de contribuição para aposentadoria rural foi mantido em 15 anos, 10 a menos do que o proposto. Mas nem todas as alterações do relator são para suavizar a dureza original da reforma. No caso da regra de transição, houve concessões no longo prazo e apertos no curto.
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Embora o governo esteja certo em buscar compensações à necessidade de recuos, existe o risco de acentuar o desequilíbrio dos sacrifícios. O Planalto acenou com "reforma previdenciária à parte" para militares, necessidade atribuída a "particularidades na legislação e na carreira", mas só mencionou a intenção de enviar uma proposta ainda neste ano.
No atacado, os recuos provocam redução na economia prevista. No varejo, mudanças específicas vão contrariar expectativas de quem já havia feito projeções com base na proposta original. Especialistas em Previdência advertem que o efeito líquido vai exigir novas reformas em prazo relativamente curto, mas em outro governo. É bom que os brasileiros se preparem para, na campanha, cobrar dos candidatos qual será a sua resposta para essa questão. Em tese, será um governo com mais apoio e legitimidade.