Em meio à onda de protecionismo mundial encabeçada por Donald Trump, o presidente argentino Mauricio Macri desembarca no Brasil na terça-feira prometendo justamente o contrário: tentar eliminar os entraves comerciais e melhorar a relação entre os dois países, que nos últimos anos tem sido mais fria do que deveria ser.
A visita é especialmente importante para o Rio Grande do Sul, onde a Argentina é o segundo maior cliente externo - no Brasil, o país figura como terceiro na lista de parceiros comerciais. Empresários gaúchos têm sofrido para obter as licenças não automáticas, o documento que autoriza a entrada física de produtos no país vizinho. Vencer as barreiras fitossanitárias impostas para a prevenção de contaminações biológicas e químicas tem sido outro problema. Indústrias de móveis, alimentos, máquinas agrícolas, ônibus e calçados têm sido especialmente afetadas pelas regras vindas de Buenos Aires.
Não faz muito, caminhões cheios de mercadorias gaúchas eram obrigados a ficar parados por dias nas aduanas, impedidos de ultrapassar a fronteira em razão das restrições.A permissão, que precisa ser emitida antes do embarque no país de origem, leva meses até ser analisada. Pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) não deveria demorar mais de 60 dias.
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Ainda na pauta do encontro, o futuro do acordo automotivo que prevê livre comércio do setor entre os países a partir de 2020. O tratado foi assinado no ano passado, mas ainda deve passar por ajustes. Entre os interlocutores dos dois governos, o discurso tem sido de aproveitar a sintonia liberal entre os países, só vista antes com Menem e FHC, para trazer novo fôlego à integração regional e reavivar o moribundo Mercosul.
Ambos os presidentes, contraponto político ao bloco bolivariano na região, consideram como prioridade avançar em acordos com a União Europeia. A expectativa é de que o acerto com os europeus, cujas negociações se arrastam há anos, seja concluído em 2018. As propostas envolvem redução de tarifas de importação, serviços, investimentos e compras governamentais. Na Europa, Espanha, Portugal, Itália e Alemanha estão entre os mais favoráveis. França e Irlanda, preocupados com uma possível "invasão" de produtos agrícolas brasileiros no velho continente, têm jogado contra.
Enquanto a parceria entre os blocos não sai do papel, o encontro de Temer e Macri é uma boa oportunidade para impulsionar o comércio bilateral. Torcida à parte, é recomendado certo ceticismo com discursos muito otimistas.
Historicamente, Brasil e Argentina têm sido mais rivais do que parceiros. Quando concordam, geralmente é sobre ideologia nacionalista e não sobre abertura, como foi com Getúlio e Perón e Dilma e Cristina mais recentemente. Assim como no tango, é preciso dois para fechar negócios.