Não são promissores para o Rio Grande do sul os desdobramentos da decisão do governo federal de reduzir praticamente à metade a exigência de conteúdo nacional para o setor de exploração e produção de petróleo e gás. Há tempos a coluna vem advertindo que dessa decisão, anunciada no final da semana passada, dependeria o futuro dos polos navais no Estado – a essa altura, perdão para o plural.
Um dos aspectos mais críticos para o Estado – e para a indústria nacional – é a redução da exigência para construção de plataformas, de 65% para 25%. As indústrias de máquinas e equipamentos trabalhavam com projeção de redução para 40%, que já seria drástica, mas realista. Se por um lado criou estruturas e empregos, a exigência de conteúdo nacional também gerou miragens e distorções, da formação de cartel entre as empreiteiras nacionais para disputarem os bilionários contratos da Petrobras até a relativização da produtividade.
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Foi por saber das ameaças embutidas em uma decisão desse calibre que, no ano passado, a coluna ouviu Harro Burmann, gaúcho que tentava em Suape (PE) retomar a lógica da produção nacional com parâmetros internacionais de horas/homem por plataforma. Sem a ameaça da concorrência global, o Brasil chegou a operar com 9 milhões de horas-homem por embarcação. No Estaleiro Atlântico Sul, a aplicação de métodos de gestão e processos reduziu esse número a menos de 2,4 milhões.
Agora, a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) argumenta que só as novas regras acrescentarão 1 milhão ao contingente de 12,9 milhões de desempregados que o Brasil registrou em 2016. Não é impossível que boa parte dessa conta viesse com ou sem mudança nas regras. Embora necessária, a revisão veio drástica demais. Vai provocar reação, e já começa a despertar a indústria para mobilizações contrárias à medida.