Não há sinal de paz efetiva e duradoura no Oriente Médio – ao contrário –, mas apesar da manutenção do conflito que provocou combustão no preço do barril no ano passado, agora a cotação do petróleo cai para perto dos US$ 60. Bom para os consumidores, que têm alívio ao menos indireto no bolso, mas ruim para o Brasil caso se mantenha por muito tempo abaixo desse patamar.
Como assim? Primeiro, é preciso lembrar que, com o pré-sal, o Brasil se tornou um país exportador, a ponto de ser convidado a ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). No ano passado, o óleo cru (sem refino) ultrapassou a soja como produto mais vendido ao Exterior. O valor total das exportações foi de US$ 44,8 bilhões, 13,3% do total, enquanto o grão somou US$ 42,9 bilhões, ou 12,7%.
Com a queda na cotação, diminui a quantidade de dólares que entra no país. Isso significa potencial alta no câmbio – calma, outros fatores podem segurar esse efeito –, portanto ameaça inflacionária: sempre que o dólar sobe, aumentam os preços. E o impacto não fica restrito à balança comercial. Também pode significar arrecadação menor, com preocupação para o equilíbrio fiscal.
Em análise feita no mês passado, quando o petróleo cruzou o limite de US$ 60 para baixo, a XP estimou que, caso seja mantido nesse patamar, haveria queda de R$ 19,6 bilhões na receita líquida e redução de US$ 5,5 bilhões no saldo da balança comercial.
É bom lembrar que a Petrobras já fez três reduções seguidas no preço do diesel nas refinarias – na segunda-feira (5), ocorreu a mais recente. A estatal tem dado preferência para cortes nesse combustível com um objetivo: é o que mais pesa na inflação. Não diretamente, mas porque influencia parte significativa da cadeia de custos no Brasil.
No país em que cerca de 70% das cargas são movimentadas por meio rodoviário, diesel mais barato reduz custos do escoamento da produção agrícola e do transporte até o consumidor. É uma forma de reduzir o impacto na inflação. Conforme a XP, se a Petrobras reduzir os preços dos combustíveis em linha com a queda na cotação do petróleo, o alívio poderia ser de 0,2 ponto percentual no IPCA.