A Seven Boys conseguiu realizar com sua "bisnaguinha", verdadeira febre entre crianças nas décadas de 1990 e 2000, o sonho de qualquer marca: a fidelidade do público infantil. Agora, depois de anos no topo da lista de prioridades de meninos e meninas, a empresa enfrenta grave problema nas vendas. O capítulo mais recente foi o encerramento da produção em Porto Alegre, com demissão de 350 funcionários.
A Seven Boys teve o nome mantido após ser adquirida em 2015 pela WickBold, que levou em conta o sucesso da marca. Mas a empresa acabou pressionada por dois lados: a guerra de preços promovida pelas companhias do setor e a grande capilaridade das pequenas panificadoras.
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A venda da Seven Boys dois anos atrás representou a esperança de um novo fôlego para a empresa. Fundada por imigrantes japoneses, em Santos (SP), na década de 1950, o negócio já vinha enfrentando problemas financeiros há alguns anos.
Especializada no segmento de "pães especiais", com adição de grãos e iogurte, a compradora WickBold viu na aquisição oportunidade de ganhar presença nacional. Forte no Sudeste, não conseguia crescer no Sul e nem em Minas Gerais, onde a Seven Boys tinha forte participação. Dona de 21% do mercado brasileiro, seria a chance ideal para fazer frente à líder Bimbo.
Não foi bem o que aconteceu. Atenta à movimentação dos concorrentes, a multinacional mexicana, proprietária de marcas como Pullman, Nutrella, Ana Maria, rap10 e Plus Vita - com 26% das vendas do segmento no país - também fez mudanças. Adotou estratégia ousada e reduziu o preço de mercadorias nas prateleiras - a Nutrella tem uma fábrica instalada em Gravataí.
Com menos fôlego financeiro, a WickBold não conseguiu acompanhar o expediente sem comprometer as margens de lucro. Tentando avançar em outras frentes, a empresa sentiu os mesmos problemas já enfrentados pela antiga administração da Seven Boys. Devido à produção de trigo no Estado, é muito forte a presença de pequenas panificadoras em todo o Rio Grande do Sul. Ganhar o espaço das padarias foi mais difícil do que parecia.
Para tentar estancar o problema, a direção trocou o comando da fábrica de Porto Alegre duas vezes. Mais recentemente, a administração esteve sob responsabilidade da sede em Belo Horizonte. A WickBold não comenta o encerramento das atividades na Capital. Consultores que acompanham
o setor afirmam que a empresa deve voltar a focar no Sudeste, onde tem forte presença. O que não significa deixar de vender seus produtos no Estado. A fábrica em Belo Horizonte passará a abastecer a região, mas corre o risco de o pão não chegar mais tão fofinho.
*A colunista Marta Sfredo está em férias