Acabou mais um Carnaval, ninguém ouve cantar canções... Feita a menção à Marcha de Quarta-Feira de Cinzas, encerrou-se a folia nas ruas e o período de férias da maioria dos brasileiros. É hora de encarar a realidade, o trabalho, as reformas propostas pelo governo, a instabilidade da economia, que ora parece avançar, ora parece seguir encalhada no poço sem fundo da recessão.
Haverá delações – ainda será preciso digerir dezenas de revelações –, com prováveis consequências na estrutura de poder, como estamos assistindo nos últimos dois anos. A crise virou tema de blocos, refletiu-se nas escolas de samba – o saldo do “maior espetáculo do mundo”, o desfile do Sambódromo no Rio de Janeiro, foi de 20 feridos.
Dois anos de recessão profunda e a abrangência da corrupção exposta em praça pública causou trauma à maioria dos brasileiros. É difícil reagir de forma proativa, o ambiente fica rarefeito, qualquer faísca acende conflitos e toda iniciativa é julgada antes por sua origem do que por seu mérito.
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O que fazer nesse cenário? Assumir nossa parcela de responsabilidade. Reivindicar não apenas direitos, mas cidadania. A cidade está suja? Participe do mutirão para limpar as praças. O Estado está falido? Não agrave a situação provocando despesas que podem ser evitadas. Brasília se decompõe? Pelo exemplo oposto, prove que não é todo o Brasil que se corrompeu, mas um grupo – enorme, interminável, mas ainda assim uma parte.
A jornalista que assina esta coluna visitou um país submetido a um grande trauma, daqueles cujo efeito parece insuperável. Causou sofrimento? Sem dúvida. Houve consequências? Certamente. Parte do encanto se foi, ao menos temporariamente? Infelizmente, sim. Mas grupos de cidadãos diversos na etnia, na política, na cultura, no nível socioeconômico, seguem tocando suas vidas. Trabalham, estudam, engajam-se, festejam. Fazem-se ouvir. Cobram do governo quando a violência inaceitável nas ruas vira institucional. O maior risco que o Brasil corre é achar que o país não vale mais a pena.