Tem gente que não gosta de shopping. Beleza. Talvez não fosse preciso ter tantos, mas a conveniência de comprar à noite ou em fins de semana, de levar as crianças para brincar e até assistir a bons filmes já consolidou os caixotes de concreto no dia a dia da maior parte dos brasileiros. Para muitos, ainda é um mistério como funciona a relação entre quem tem loja em shopping com quem o administra.
O conflito com epicentro em Porto Alegre tem exposto e revelado algumas regras que causam espanto em tempos de crise, como a do hoje famoso 13º aluguel. Comerciantes que sempre procuraram evitar a exposição e o confronto direto com os gestores dos corredores climatizados e dos espaços seguros agora dão detalhes sobre valores e forma de cobrança. É sinal de que passaram a sentir que a relação se desequilibrou e, agora, têm pouco a perder. A reportagem de Caio Cigana publicada nesta segunda-feira aprofunda e contextualiza a mobilização que a coluna acompanha desde outubro.
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É com inquietação que se assiste a esse mal-estar fermentar e crescer sem reação. Ter uma quantidade saudável de clientes circulando nos corredores, que não seja apenas em busca de refúgio para o calorão deste início de 2017, depende do que os shoppings chamam de "mix" – a composição entre lojas gigantes e sofisticadas até o pequeno comércio que resolve problemas imprevistos.
Com a renda corroída pela inflação, com o medo crescente de ficar sem emprego, o consumidor se retraiu na crise. A reação depende de medidas de governo, de estabilização política. Mas a conquista da maioridade institucional passa por seu exercício cotidiano. É preciso aprender a fazer bem coisas pequenas para saber desatar grandes nós. Não é impossível virar esse jogo de perde-perde, em faturamento e imagem, em um resultado ganha-ganha. O mundo está mudando, o que pressupõe mais abertura à prestação de contas e à negociação. Com responsabilidade nas duas pontas.