Agora, só Donald Trump segura. A decisão do Banco Central de optar pelo corte mais agressivo no juro básico, de 0,75 ponto percentual, foi saudada de A a Z. Nem o aparente desvio do mandato único, focado na inflação, suscitou críticas à direção comandada por Ilan Goldfajn. O Itaú Unibanco, primeira grande instituição financeira a antecipar a tendência, já avisou: "O comunicado que acompanhou a decisão sinaliza que pelo menos outro corte de 0,75 p.p. irá ocorrer em fevereiro, mas não se compromete a realizá-lo".
A próxima reunião será concluída em 22 de fevereiro. Se Trump não atrapalhar, a taxa de referência no Brasil chegará ao Carnaval em 12,25%, o que não se via por aqui desde abril de 2015 – não por acaso, mais ou menos quando o humor na economia começou a ficar cinza.
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O corte pronunciado fez a bolsa subir nesta quinta-feira 2,41%, para 63,9 mil pontos. Foi o maior patamar de fechamento desde 8 de novembro, em pleno rali pré-ressaca de final de ano, determinada exatamente pela eleição de Trump. O real se valorizou ante o dólar e o euro, em parte pelo entusiasmo com a medida que dá algum alento à economia, em parte com a falta de novidades econômicas do futuro ocupante da Casa Branca.
Houve quem considerasse a decisão do BC inesperada ou surpreendente, mas os sinais estavam todos lá. Foram reforçados pela inflação dentro do teto da meta em 2016.
A explosão dos preços decorreu da correção de congelamentos disfarçados. A projeção é de retomada ainda muito lenta, o que deve manter o freio a reajustes. Portanto, simplesmente não havia mais motivo para manter o juro tão alto. O corte nem de longe encerra o período de recessão, mas é a melhor notícia em meio ao declínio sem fim dos indicadores nacionais.