Calma. Quando assumir a Casa Branca, em 20 de janeiro, Donald Trump não vai expulsar 11 milhões de imigrantes. Serão “só” 3 milhões, apenas os que tiverem ficha criminal. Pode ser até que nem todos sejam deportados. Alguns talvez fiquem presos nos Estados Unidos.
Depois do susto da eleição do bilionário, não faltaram tentativas de interpretar suas arrepiantes promessas eleitorais como mera estratégia para ganhar a eleição. Seria uma espécie da ‘’teoria do violino’’ – no original, segurar com a esquerda e tocar com a direita – ao contrário. Não o oposto exato, porque nem o mais delirante analista imaginaria Trump “tocando com a esquerda”, mas adaptada para um humano dotado de polegar opositor.
As primeiras entrevistas de Trump não indicaram preocupação em dar previsibilidade aos mercados. Se há esperança de racionalidade, é em um mecanismo com origem francesa, mais conhecido pelo nome em inglês: checks and balances (freios e contrapesos). O sistema de divisão de poderes, com necessidade de aprovação do legislativo para medidas de impacto, no caso dos Estados Unidos, vale para boa parte da agenda heterodoxa de Trump. Mesmo com a Câmara e o Senado dominados por correligionários republicanos, há propostas longe do consenso, como o fim do Nafta, acordo de livre comércio com Canadá e México.
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Alguns impactos da eleição de Trump se cristalizam: segundo The Wall Street Journal, os três principais efeitos na economia local serão de alta: no crescimento – baseado na promessa de investimento em infraestrutura –, na inflação, e em consequência, no juro.
Ainda só uma forte possibilidade no início da noite de domingo, uma escolha animaria investidores: Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase, como secretário do Tesouro (equivalente a ministro da Fazenda no Brasil). Embora sua reputação tenha sido arranhada na crise de 2008, como a de todos os banqueiros, Dimon investiu na recuperação de Detroit e costuma escrever comunicados em tom patriótico aos colaboradores. É um dos nomes mais especulados – e com maior torcida no campo racional.
O efeito da eleição de Trump na bolsa e no câmbio no Brasil foi pesado. Em uma semana que começa na véspera de feriado, é possível que investidores tenham antecipado proteção e essa reação perca força. Com Dimon, representaria alívio. Centros de estudo dos EUA projetam que, se Trump seguir seu plano à risca, a dívida pública americana aumentará US$ 7 trilhões – quase um terço do total, US$ 19,8 trilhões. Esse número seria capaz de acionar o sistema de freios e contrapesos? Em um país marcado pelo racionalismo, sim. Nos EUA que elegeram Trump, é uma dúvida razoável.