Dois movimentos, aparentemente contraditórios, estão embutidos na eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Um é a valorização do dólar, por conta da estratégia de fechamento de fronteiras defendida pelo candidato na campanha. Outra é um novo revés, que pode significar o fim da globalização tal como a conhecemos. Tese apocalíptica? Quem a chancela é Nathan Blanche, um dos maiores especialistas em câmbio do Brasil:
– Se Trump fizer o que disse que faria, implode a globalização.
Blanche caracteriza o período de integração depois da II Guerra como uma ''montadora de eficiência'' no mundo. A intenção declarada de Trump de bloquear a China, teme o analista, sócio da Tendências Consultoria, pode afetar o nível de emprego e renda dos chineses, maiores parceiros comerciais do Brasil desde 2009 e começar o desmonte do processo de aumento de produtividade na economia global:
– O efeito no real seria drástico.
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No médio prazo – até meados de 2017 –, Blanche mantém sua projeção de dólar a R$ 3,30. Depois, tudo vai depender das decisões de Trump. Se o aperto às importações chinesas for gradual, o quadro pode ser mais benigno. Mas ele não duvida de imposição de tarifa sobre os produtos chineses de até 20%.– Isso vai atrapalhar muito o plano do ministro Serra – constata, sobre o conflito entre o protecionismo representado por Trump e a intenção do governo brasileiro de ampliar sua integração no mercado global. O tom conciliador e mais ''liberal'' (economicamente) do discurso de vitória de Trump não convenceu Blanche:
– É promessa de casamento.
Trump, destaca o analista, faz parte da mesma percepção que levou ao Brexit. Dos dois lados do Atlântico, há populações que se sentem perdedoras na ''montadora de eficiência'', e descontentes com o deslocamento de poder. Outras peças devem se descolar da linha de produção. E pode ser o fim da globalização.