"ALTA DO JURO É MAIOR RISCO"
Antonio Kandir, ex-ministro e empresário
Ex-ministro do Planejamento, Antonio Kandir pondera que é hora de ''keep calm & wait'', ou seja, manter a calma e esperar os desdobramentos da eleição de Donald Trump. Com maioria garantida na Câmara e no Senado, o republicano não tem de enfrentar disputas políticas de curto prazo.
– Ele pode definir com calma sua agenda, e seu governo pode até ser positivo – observa.
O maior perigo, na avaliação de Kandir, é se Trump decidir levar adiante seu programa de obras a qualquer preço – leia-se com desquilíbrio do orçamento. Caso o déficit nas contas públicas da maior economia do mundo se aprofunde, o custo para o planeta pode ser a elevação drástica da taxa de juro – algo como ocorreu na década de 1980.
– Isso pode desestabilizar o mercado financeiro de maneira geral, até porque diante do juro baixo há muita alavancagem (endividamento) – adverte.
Para as empresas, recomenda Kandir, é preciso acentuar a capacidade de rápida adaptação, que sempre foi importante mas se tornou questão de sobrevivência.
"OUTROS EMERGENTES VÃO SOFRER MAIS"
Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos
Estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido avalia que a vitória de Trump não tem potencial para frear a recuperação do mercado brasileiro de capitais. Para o especialista, o republicano poderá ser barrado pelo Congresso, mesmo com maioria de seu partido, se tentar aprovar medidas que levantaram polêmica durante a campanha.
– A vitória de Trump não representa todo o caos que foi projetado. Outros emergentes vão sofrer mais com o cenário americano. O México depende dos Estados Unidos para crescer. O Brasil, não – avalia.
Plácido afirma que o tom ameno do discurso do republicano após o resultado das urnas reduziu impacto que poderia ter sido ainda maior sobre as bolsas no mundo. Para o especialista, o futuro do mercado brasileiro dependerá mais de fatos internos, como o ajuste fiscal e o andamento da PEC do teto dos gastos no Senado.
– Ativos de companhias como a Gerdau, com operações nos Estados Unidos, foram bem na sessão de ontem. Ajudou o fato de Trump prometer incentivos à construção civil – acrescenta.
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"A COISA NÃO É TÃO FEIA ASSIM"
Frederico Behrends, consultor de comércio exterior
Com experiência de décadas em conversas multilaterais e bilaterais, Frederico Behrends, coordenador do Grupo Temático de Negociações Internacionais da Fiergs, mostra espírito despachado ao dar um alento quanto ao futuro do comércio sob Donald Trump:
– A coisa não é tão feia assim.
O maior motivo de alívio, para Behrends, é a expectativa de alta sustentada do dólar – não a temida disparada. Assim como a maioria dos pragmáticos, considera as “promessas” do presidente eleito dos EUA, como o muro na fronteira do México, “ameaça com a bainha da espada”, ou seja, discurso eleitoral que vai esbarrar em dificuldades fáticas – como indicou o discurso da vitória.
Behrends pondera que o protecionismo de Trump pode até ser antídoto para uma preocupação do Brasil: ter ficado fora da Parceria Transpacífica (TTP). Idealizado para isolar a China, representa um custo para os EUA, que Trump não deve aceitar. Sem pressão presidencial, o mais provável é que o acordo trave no Congresso e definhe. Beherends também vê mais chances de fechar o acordo União Europeia-Mercosul.