Empresa gaúcha com maior presença nos Estados Unidos, de onde vem entre 25% e 35% – dependendo do período –, de sua receita líquida de R$ 8,7 bilhões no terceiro trimestre, a Gerdau não tem medo de Donald Trump. Na manhã desta quarta-feira, ao apresentar o balanço da multinacional com sede em Porto Alegre, o diretor-presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, ponderou que a siderúrgica está presente nos EUA desde o final da década de 1990 e se consolidou como uma companhia local. Portanto, não tem receio de ser alvo de discriminação por ter capital de origem estrangeira em um país que passará a ser governado, a partir de 20 de janeiro, por um presidente assumidamente protecionista e isolacionista, ao menos no discurso.
– Não vemos com preocupação nenhuma. Estamos na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, desde 1998/1999, crescemos lá e somos um grande player local. Nossa expectativa é de que Trump faça um bom governo, gere crescimento e empregos. Uma das nossa expectativas é de que, durante a campanha, os dois candidatos afirmaram que fariam fortes investimentos em infraestrutura, o que seria positivo para a indústria siderúrgica – afirmou o empresário.
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Outro impacto da eleição de Trump para as atividades da Gerdau é em relação à mobilização dos produtores locais de vergalhões – produtos do segmento de aços longos, usados principalmente em construção civil – contra a importação de material acabado, nos Estados Unidos. Embora André não tenha explicitado o desdobramento, um presidente protecionista poderia ser mais simpático a esse pleito. Um efeito da eleição do republicano, antecipado pelo temor de sua vitória no país vizinho, é a desvalorização do peso mexicano, que já deixou – e tende a acentuar esse movimento _ a produção de aço da Gerdau no México mais competitiva. Apesar do duro discurso de Trump contra o Nafta, acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México, André afirma não ver ''mudança de cenário impactante'' sobre o tratado.
– Talvez ocorra alguma revisão de cláusula, mas não deve passar disso.
No resultado consolidado do terceiro trimestre, a Gerdau teve redução de 51% no lucro líquido ajustado (sem impactos não recorrentes), de R$ 193 milhões para R$ 95 milhões. A receita líquida, no período, teve redução de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme a empresa por redução no volume de vendas, de 21% na mesma base de comparação.
A companhia segue avaliando suas posições em ativos – venda de unidades, associação com empresas internacionais e outras possibilidades –, mas André afirmou que neste momento ''não há nada para anunciar''. O empresário disse ver para o Brasil ''um cenário desafiador'' de crescimento, mas aposta em ''recuperação lenta e gradual no nível de atividade'' e das exportações a partir do país de origem do grupo.