Bem que a coluna temia: uma poda discreta no juro básico poderia não apenas fazer pouca – ou nenhuma – diferença, como permitir elevação das taxas na ponta. O levantamento do Banco Central (BC) apresentado nesta quarta-feira mostra que o custo do rotativo do cartão de crédito subiu 5,3 pontos percentuais nos 12 meses fechados em setembro, para incríveis 480,3% ao ano.
O período do levantamento é anterior ao corte cauteloso, mas indica o que nos espera no curto prazo. É claro que o rotativo do cartão é o tipo de crédito mais caro que existe por não ser planejado. Não é uma linha à qual se recorre a não ser por absoluta necessidade ou completa desorganização. Mas 20% dos brasileiros que usam cartão ''caem'' no rotativo como se fosse normal. O recurso movimentou inacreditáveis R$ 26,3 bilhões em setembro. O pior é que mais de um terço entram no pior tipo de inadimplência – aquela que vira bola de neve – por conta disso.
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Embora o famigerado spread – diferença entre o que os bancos pagam aos clientes que aplicam seu dinheiro e quanto cobram dos que pedem crédito – explique parte do problema, é curioso que seu principal componente – exatamente o volume de calotes – tenha recuado no mês do recorde, de 37% em agosto para 36,2% em setembro. Para lembrar, compõem o spread inadimplência, lucro dos bancos, impostos/compulsório e despesas administrativa.
Juro na ponta subindo com inadimplência estável ou com ligeiro recuo é péssima notícia. Significa que, dentro de um mês, existe o sério risco de vermos, outra vez, as taxas subirem na ponta, mesmo com a sinalização de que a taxa básica vai encolher. Preço de crédito em alta no final do ano sobre o qual, ainda que menores, há perspectivas de melhora, é presente de Grinch, não de Noel. Senão, depois de termos nos habituado com a ''despiora'', seremos obrigados a encarar a ''desmelhora''.