Se a melhor expectativa para a inflação medida pelo IPCA para 2016 ainda está acima de 7% – projeção média do mercado contida no Relatório Focus do Banco Central (BC) –, mais de meio ponto acima do teto de tolerência definido para o sistema de metas, como se explica que muitos economistas considerados cautelosos apostem em dois cortes de 0,5 ponto percentual, um em cada uma das duas reuniões que faltam neste ano – uma na quarta-feira, outra no dia 30 de novembro?
É bom lembrar que política monetária tradicional, como faz o Brasil, via calibragem do juro básico, leva entre seis e nove meses para fazer efeito, ou seja, dinamizar a economia. Portanto, a inflação que interessa ao BC neste momento é a de 2017, para a qual o mercado projeta 5%, nível que, se não é confortável, é tolerável.
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Há um detalhe que não deve ser menosprezado: embora o juro básico esteja imobilizado há 15 meses, as taxas de mercado sobem sem trégua há dois anos, em boa parte impulsionadas pelo aumento da inadimplência nos bancos.
Para que os cortes em série que a economia espera do BC nos próximos meses cheguem ao cliente na ponta final, será preciso garantir que os bancos repassem o menor custo. Há dúvidas sobre a capacidade e a intenção de fazê-lo. Na avaliação dos técnicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que acompanham a subida das taxas de mercado frente à Selic congelada, para que o repasse seja possível é preciso que a inadimplência fique, ao menos, estável.
Desde março de 2013 a setembro deste ano, a Anefac chama atenção, a Selic subiu sete pontos – de 7,25% para 14,25%. No período, a taxa média para pessoa física disparou 10 vezes mais – 70,64 pontos percentuais –, de 87,97% para 158,61%. Para que o corte no juro básico se torne, de fato, um condutor da recuperação, precisa de complementos. Mas como o cenário de que há, de fato, o espaço para a medida, começou a se desenhar com mais clareza apenas há cerca de 20 dias, uma coisa de cada vez.